Saturday, October 31, 2009

o novo "Arquivo da Cidade de Amesterdão"

O Arquivo da Cidade de Amesterdão foi transferido recentemente para o centro da cidade.

O mais importante arquivo da cidade está desde 2007 instalado num edifício emblemático de Amesterdão, construído entre 1919 e 1926 para sede de um grande banco holandês com actividade centrada nas colónias (o equivalente ao nosso BNU).

A adaptação da antiga sede de banco a novo arquivo é exemplar. A identidade patrimonial do edifício foi preservada mas não se comprometeu a funcionalidade do novo equipamento. Exemplar também é o horário de abertura. Foi pensado de modo a que todos os munícipes tenham a possibilidade de ir ao arquivo da sua cidade: está de portas abertas aos fins-de-semana entre as 11h e as 17h.

Este exemplo de Amesterdão é particularmente relevante para Lisboa na medida em que se trata do arquivo de uma cidade da Europa com um passado colonial muito semelhante ao de Lisboa.

Nós lisboetas não podemos deixar de pensar nos vários imóveis devolutos, Municipais e do Estado, espalhados pelo centro da capital. É lamentável que as únicas ocupações em que se pensa para todo este património sejam os “hotéis de charme” ou “condomínios de luxo”.

Mas há evidências de mudança de mentalidades. Foi um bom sinal a decisão da CML instalar o MUDE - Museu do Design e da Moda na antiga sede do BNU, em plena Baixa. Esperemos agora que se tenha o bom senso de abandonar a ideia de construir um mega edifício no Vale de Santo António, um projecto bem intencionado mas pouco sustentável e numa localização excêntrica.

Lisboa ainda está na infância. Para confirmar a nossa triste realidade basta visitar o arquivo de Amesterdão no sítio na internet: http://www.stadsarchief.amsterdam.nl/

Para saber mais sobre a história do edifício (classificado "Monumento Nacional" desde 1991): www.debazelamsterdam.nl/engels/indexGB.htm

Friday, October 30, 2009

PUBLI-CIDADE: Costa & Eros

O que têm em comum o Chafariz da Esperança e a Rua de São Paulo?
No primeiro caso: é proibida a instalação de dispositivos de propaganda e publicidade em imóveis classificados e respectivas ZEP (zona Especial de Protecção).
No segundo caso: é proibido afixar cartazes no espaço/euipamento público.
Nota: A área urbana de São Paulo está em vias de ser classificada Monumento Nacional (Baixa Pombalina) e o Chafariz Pombalino é Monumento Nacional desde 1910.

Wednesday, October 28, 2009

HOJE: 7 anos do encerramento do Arquivo Histórico de Lisboa

Faz hoje exactamente 7 anos que o pólo do Arquivo Histórico do Arquivo Municipal de Lisboa encerrou ao público. Motivo: não tem instalações.

E como vai sendo habitual, não houve qualquer notícia nos Media. Já ninguém parece dar grande importância ao facto. Possíveis novos túneis, "hoteis de charme", novos silos da Emel para estacionamento ou a nova travessia do Tejo são vistos como assuntos mais relevantes.

Mas é importante recordar que desde o dia 28 de Outubro de 2002 que o Arquivo Histórico da nossa cidade não está disponível para consulta. Os munícipes de Lisboa, os restantes cidadãos do país (afinal é o arquivo da capital...) e os investigadores estrangeiros (fomos capital de um império durante séculos...) estão pura e simplesmente privados de consultar o Arquivo Histórico da cidade de Lisboa. Haverá outra capital da UE nestas condições de terceiro mundo?

Quanto aos restantes pólos: o Arquivo Intermédio está "temporariamente" arrumado nas garagens em cave de um imóvel de habitação social no Bairro da Liberdade. Quem o frequenta sabe que no inverno é comum ver a Sala de Leitura decorada com caixas de plástico recolhendo a água da chuva. Quanto ao pólo do Arco Cego, é um milagre ainda não ter sido consumido por um incêndio...

Os funcionários dos Arquivos Municipais são esquecidos e uma espécie de "parentes pobres" da máquina da autarquia.

Mas afinal, estamos a falar de um equipamento cultural. Os milhões de euros que a CML já gastou em flores para os canteiros da Av. da Liberdade assim como os milhões gastos em iluminações de Natal, teriam dado para um Arquivo Municipal como aqueles que vemos em Madrid ou Amesterdão.

Estamos na altura de exigir ao novo executivo, que tomará posse no próximo dia 3 de Novembro, uma solução para os Arquivos Municipais.

Lisboa merece um Arquivo digno da sua História.

Imagem: Atlas da Carta Topográfica de Lisboa - 1857 -Planta 26 (Largo do Rato)

Sunday, October 25, 2009

POSTAIS DA BAIXA: Rua da Padaria




Os vãos de um andar nobre num prédio de rendimento pombalino reduzidos a isto. Será que o Darwin explica esta evolução? Baixa Pombalina: Imóvel de Interesse Público, em vias de ser classificado «Monumento Nacional». É isto que queremos candidatar a Património Mundial da Humanidade? É esta a cidade onde queremos viver?

Saturday, October 24, 2009

Terreiro do Paço - "Cartas de Marear", não, por favor, Sr. Presidente da CML!


Exmo. Senhor Presidente da CML,

Dr. António Costa

Passado o fervor eleitoral e renovada que foi a Presidência de V.Exa., vimos solicitar-lhe que repense o projecto em curso para o Terreiro do Paço, designadamente quanto à presença nos passeios laterais dos desenhos alusivos, segundo o autor do projecto, às cartas de marear do tempo das Descobertas.

Parece-nos um erro insistir-se neste último e despropositado pormenor da polémica, e um tremendo equívoco a sua defesa tendo em conta que o Terreiro do Paço e a sua imagética pouco ou nada terão que ver com os Descobrimentos, já que aquele foi concebido numa perspectiva Iluminista, de afirmação do Marquês e do país na Europa.

Solicitamos, por isso, a V.Exa., Sr. Presidente, que a CML não deixe de fazer ver aos autores do projecto a necessidade de se retirar do desenho final semelhante enfeite, sob pena de uma intervenção que se pretende sóbria, consensual e perene, se eternize como polémica e, por isso mesmo, susceptível de ser revista a médio ou longo prazo, com os inevitáveis custos para a cidade e para o erário público.

Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos.

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel Atanásio Carvalho, António Branco Almeida, Nuno Santos Silva, Diogo Moura, Luís Serpa, Pedro Janarra, Luís Marques da Silva, José Morais Arnaud, Vasco Nobre, Jorge Santos Silva, António Sérgio Rosa de Carvalho, Júlio Amorim, Virgílio Marques, Nuno Caiado, Filomena Torres e Fernando Jorge

Nota: carta enviada no dia 22 de Outubro

Foto: Imagem de Paulo Guedes, c.1910. Arquivo Municipal

Friday, October 23, 2009

Trams are making a major comeback

Trams are making a major comeback

Upstaged over many years by metros, buses and cars, trams are now making a major comeback.
With its Citadis trams, Alstom is now the driving force behind this renewal of interest. Trams can greatly improve the quality of urban transport and often give a new lease of life to city centres. To date 1000 Citadis solutions have been commissioned from 24 cities around the world including Paris, Melbourne, Tunis, Algiers, Barcelona, Dublin, Madrid, Tenerife and Rotterdam. 30 other cities are also planning to introduce trams in the next three years.

Key facts about the Citadis:

-Powered by clean energy
-Carries the same number of passengers as three busses or 150 cars
-Uses 4 times less energy than a bus and 10 time less than a car
-Provides passengers with a comfortable and pleasant ride
-Uses unique onboard monitoring and passenger information system called Agate e-Media
-Each client can customise the style of their trams to reflect a city or area to best effect

31 October 2008


Nota: Só esta empresa já forneceu mais de 1000 eléctricos para 24 cidades, principalmente na Europa, entre 1997 e 2007. Lisboa nunca mais investiu neste tipo de transporte público desde a inauguração do eléctrico de nova geração entre a Praça da Figueira e Algés em 1995. Está na altura de Lisboa voltar a investir nos eléctricos.

Foto: os novos eléctricos para DIJON e BREST

Wednesday, October 21, 2009

MONUMENTO NESTLÉ




O que têm em comum a Praça do Comércio, A Praça da Figueira, o Largo do Calhariz e a Estação do Cais do Sodré? Não, não é só o serem imóveis classificados pelo Estado Português. Todos têm um «Monumento Nestlé». A imagem mostra o quiosque que aterrou junto ao Padrão dos Descobrimentos na zona monumental de Belém (do outro lado existe um quiosque da "Olá", igualmente kitsch e de mau gosto). As marcas de gelados, tal como as de cerveja, estão cada vez mais agressivas nas suas campanhas de marketing e publicidade. Equipamentos muito intrusivos e ruidosos como estes quiosques exigem novas regras da parte do Pelouro do Espaço Público da CML.

Tuesday, October 20, 2009

RUA DE SÃO JULIÃO: «Rigor, Competência e Progresso»





Este é um retrato fiel e perfeito da Baixa. Um retrato da Lisboa actual. Imagens de hoje, do sector inicial do arruamento, entre a Rua da Padaria e a Rua da Madalena.

Sunday, October 18, 2009

TRAMWAY REVIVAL in EUROPE

Accessibility and liveability are the key drivers in addressing sustainable mobility issues. The city environment and its infrastructure are threatened by aerial and water-based pollution caused by current transport modes. Furthermore, the erosion of access to public spaces, gentrification and loss of urban diversity challenge socio-cultural functions.

Private transport, i.e. the car, shows a growing incompatibility with accessibility and liveability. Low-emission vehicles will not deliver a sustainable solution.

Public transport systems have to embrance strategic and spatial functionality, and so address a wider range of sustainability issues, offering a de facto collective space to compensate for public space eroded by privatization and building for commercial gain. Transport systems have a long history of driving urban development.

Lately, many cities in Europe, recalling the efficiencies of nineteenth-century systems, have reintroduced trams. The modern tram is, however, a long way from its noisy, clattering ancestors. It must be different in order to lure modern commuters out of their cars.


in THE ECO-DESIGN HANDBOOK, Thames & Hudson, London, 2005

Friday, October 16, 2009

«1004 edifícios à espera de classificação»

«Há monumentos nacionais que esperaram tanto tempo, para serem considerados como tal, que nunca chegaram a sê-lo. Outros, como a Ermida de Nossa Senhora do Livramento ("uma das páginas mais negras da destruição do património setubalense", segundo o site do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico - IGESPAR), que foram entretanto desclassificados por já não existirem.

São 1004, os pedidos "em vias de classificação" no IGESPAR. Alguns esperam desde 1985, ano em que foi criada a primeira Lei de Bases do Património Cultural, que configura a atribuição da denominação e assegura medidas de conservação e preservação dos edifícios. O Instituto já classificou 3300 edifícios segundo os critérios definidos.

"Sendo feito em contínuo, [o processo de classificação] pode demorar em média dois anos", explica ao i Maria Resende, do IGESPAR. No entanto, segundo a listagem deste organismo, disponível online há mais de mil pedidos em "vias de classificação", trinta casos em estudo e cinco monumentos considerados património, desclassificados.

Os alertas de "desclassificação" são do âmbito "da actividade própria das Direcções Regionais de Cultura, que conhecem melhor o terreno e os bens que lhes ficam próximos", explica Maria Resende. Mas, "com imóveis classificados na primeira metade do século passado", constata-se agora que estes monumentos não existem por "não terem sobrevivido ao tempo", sublinha Maria Resende, ao i.

Só em Lisboa há cerca de dois mil edifícios que integram a listagem anexa ao Plano Director Municipal (PDM), "muitos deles classificados", garante Passos Leite, coordenador da estrutura consultiva do PDM de Lisboa. "O PDM tem em anexo, o inventário municipal de património, e obviamente que, sendo este inventário de 1994, foi-se tornando obsoleto", ressalva o arquitecto. "Muitos deles estão classificados, mas a maior parte encontra-se num estado de avançada degradação" sublinha Passos Leite.

O arquitecto não acredita que a morosidade seja a maior justificação para a degradação dos edifícios e explica: "A lei das rendas que não permitiu obras, a qualidade de construção e a não manutenção dos edifícios", são as principais razões que levam à desclassificação do património, segundo o coordenador da estrutura consultiva do PDM.

Passo a passo Os pedidos de classificação de imóveis podem ser feitos por qualquer pessoa e entregues às delegações regionais, encarregues de avaliarem os imóveis em causa. "Vamos um bocadinho àquilo que nos pedem", diz ao i o arquitecto Passos Leite, acrescentando que "há edifícios dos anos 20 e 30 no Bairro Azul, em Lisboa, que estão em processo de classificação e preservação, muito pela pressão dos moradores". Cabe aos habitantes das cidades alertarem os organismos competentes. Mas, e depois? Maria Resende explica que após a avaliação regional, os pedidos seguem para o IGESPAR, que volta a avaliar os processos. No entanto, assegura que a última palavra "é dos ministros". "Há já uma grande sensibilização, e uma divisão municipal de conservar uma imagem urbana mas tendo em conta a estrutura dos bairros históricos da cidade de Lisboa", explica Passos Leite.

O IGESPAR é o responsável legal, e a nível nacional, pela classificação dos bens culturais imóveis de âmbito nacional. É a este organismo, sob a tutela do Ministério da Cultura, que chegam os pedidos regionais e a ele compete definir os critérios de carácter geral e complementar para atribuição da designação de património. Consoante o valor relativo, os bens imóveis de interesse cultural podem ser classificados como "interesse nacional" (designados "monumento nacional"), de "interesse público" ou de "interesse municipal" (classificação camarária).

"As orientações que tenho deste executivo municipal são um pouco no sentido de uma cidade mais consolidada em termos urbanísticos. E também de se evitar a todo o custo, a demolição de edifícios", sublinha Passos Leite, que aponta Helena Roseta como "um forte agente no sentido de alertar para alguns casos que mereceram a atenção" do organismo."

É preciso inverter a tendência de só recuperar as fachadas, que considero um pouco terceiro-mundista", critica o arquitecto.

Passos Leite conta ao i que a comissão faz uma a duas vistorias por semana, "e constata-se que há grandes surpresas nos interiores", acrescentando que "há alguma incultura, ainda que os autarcas e as pessoas já estejam mais sensíveis a estas questões. Lisboa tem tradição na reabilitação urbana, mas em Portugal há outros bons exemplos: Évora, Guimarães e o centro histórico do Porto cidades muito preocupadas com o património".»

in PÚBLICO, 16 de Outubro de 2009

Foto: A Praça do Comércio no verão de 2008. A Baixa e o Chiado esperam a sua classificação como Monumento Nacional. Sem isso não é possível a candidatura a património mundial da UNESCO.

Thursday, October 15, 2009

A sangue frio

Sobre o Terreiro do Paço, aqui fica um belo texto de Fonseca e Costa:

Sou completamente avesso a intervenções de arquitectos que desfigurem obra patrimonial de grandes construtores do passado - como é o caso da Praça do Comércio, obra genial de um dos mais maiores arquitectos de Lisboa.

Imagine-se que passava pela cabeça de um pintor contemporâneo propor uma intervenção que tornasse mais "modernas" AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO, ou pela de um cineasta minimalista cortar dois planos e introduzir um feito agora num filme do Chaplin ou do Hitchcock. NINGUÉM DE BOM SENSO ESTARIA DE ACORDO.

Porquê então haver quem pense que é legítimo amputar, remodelar, alterar o que tão rigorosamente foi planeado e construído por um grande arquitecto, autor de uma das mais belas Praças do mundo ?

Acabe-se de vez com a sanha interventora dos senhores arquitectos.

Mexer na Praça do Comércio é não entender a lógica da sua colocação naquele exacto ponto da Baixa Pombalina, onde de Norte se sai pelo rio para sul ou daqui se chega a Lisboa e, pelos flancos, se liga o Oriente a Ocidente.

A Praça do Comércio abre e liga Lisboa a novos Mundos.

Os arquitectos contemporâneos que intervenham naquilo que andam fazendo.

Já se esqueceram da vergonha que foi a destruição do Eden Teatro, dessoutro grande arquitecto de Lisboa que foi Cassiano Branco ?

Aprendam a descobrir Lisboa e a luz vinda do rio-mar em que se envolve, esse Rio Tejo misteriosamente aberto num mar mediterraneo a seus pés, um mar que começa exactamente no mais belo cais com que uma cidade ao mar se possa juntar.

Só que este foi o mar que nos levou a outros mundos e também não se conhece outro cais como o Cais das Colunas - essa nossa "saudade de pedra" cuja configuração ninguém tem o direito de alterar sob pena de estar a apunhalar Lisboa.

A sangue frio.



José Fonseca e Costa

Saturday, October 10, 2009

POSTAL DO ROSSIO: esplanada do "Pic-Nic"

Mal acaba o verão, este estabelecimento de restauração "arruma" as bases dos chapéus de sol da esplanada em redor da caldeira da árvore em frente. Quanto às cadeiras da esplanada, são acorrentadas ao tronco da árvore para passarem a noite.

LISBOA na véspera das eleições: a opinião de Fernanda Câncio

«Como, suponho, todos os lisboetas, estou cansada de promessas.

Estou cansada de proclamações grandiosas e juras absurdas. Voto em Lisboa desde os anos 90, quando mudei o registo de eleitora para a cidade onde me fixei aos vinte.

Levo vinte e cinco de resistência ao desregramento incompreensível do trânsito e do estacionamento, à incompreensível degradação do edificado, à sujidade incompreensível das ruas, aos incompreensíveis montes de lixo junto aos contentores e aos ecopontos, ao incompreensível mau estado dos pavimentos, às incompreensíveis falhas na iluminação pública, às incompreensíveis ausências de regulação e ordenamento urbanos e arquitectónicos, à feiura incompreensível e voluntária (porque tantas vezes destruindo coisas bonitas e boas) da maioria dos estabelecimentos comerciais.

Grande parte destas coisas não são assacáveis à direcção da autarquia e suspeito que algumas das que são também terão atenuantes - do tipo "a culpa é dos serviços". Sendo que se pode e deve discutir a que ponto a culpa de os serviços serem o que são é de quem está "em cima", há uma tendência generalizada para culpar "a câmara" por tudo, tendência essa que acaba por resultar na de os candidatos à câmara fazerem pronunciamentos relativos a assuntos em que riscam pouco ou nada ou em que se arriscam a nada poder fazer. E, o que é muito mais grave, na de que todos e cada um se desresponsabilizem totalmente dos males que identificam, quando é evidente que grande parte deles se deve a todos e a cada um.
Esperar que uma entidade exterior, um "eles" qualquer, ande connosco ao colo e nos impeça de fazer aquilo que resulta por exemplo na lixarada que é esta cidade e de atulhar com automóveis tudo o que é espaço livre é o princípio de todos os nossos problemas. Haveria lixo no chão se não fosse para lá atirado? Haveria carros a mais se cada condutor não achasse ser seu direito inalienável ir de carro para todo o lado?

A cidade não é uma abstracção: somos nós. É o que fazemos dela. É até o que os discursos dela fazem. Assumir que funciona como um corpo amorfo comandado por uma só pessoa, que teria o condão de, como assevera Santana num imperdível cartaz, "acabar com o caos no trânsito", é, além de estulto, contraproducente. Como ouvir, 365 dias por ano, gente a perorar de cátedra sobre "a desertificação" e "decadência" do centro e a necessidade de "atrair" pessoas. O mesmo discurso repete-se há mais de 20 anos, como se entretanto nada tivesse mudado, como se não existisse um repovoamento do centro operado por indivíduos e não por políticas, por pessoas e não por estruturas. Como se quem fala não fizesse a menor ideia do que se passa na cidade e acreditasse numa noção imperial de desígnio - a de que só fazemos, nós, o povo, aquilo que nos instam (ou seduzem, ou obrigam) a fazer.

Das eleições de dia 11 só pode sair um presidente da câmara repetente, e isso é bom. Podemos decidir com base no que sabemos de cada um como autarca: já experimentámos o produto. Mas por mais importante que seja o resultado - e é - há uma grande parte do trabalho que é nosso. Democracia também é isso: fazermos o que nos compete, sermos cidadãos. Vem daí a palavra cidade.

(Fernanda Câncio)

"roubado" no SOS LISBOA

Foto: A pombalina Praça de São Paulo invadida por estacionamento...

Thursday, October 8, 2009

ATENAS: pagar o estacionamento via telemóvel

Várias cidades da Europa, desde Londres a Atenas, estão a proceder ao abate das máquinas dos parquímetros consideradas obsoletas. Em sua substituição implementam o pagamento via telemóvel. Esta é uma alternativa verdadeiramente mais moderna, mais barata, mais eficiente, à prova de vandalismo e sem impacto visual significativo no Ambiente Urbano.

Este sistema deveria ser explorado pela EMEL, a começar pelas zonas históricas e/ou classificadas de Lisboa, como por exemplo a Baixa e o Chiado. O sistema Pay by Phone Parking, combinado com soluções mais convencionais como o pagamento com senhas pré-compradas, constituem actualmente a maneira mais barata e eficiente para gerir o estacionamento no espaço público.

Se este sistema pode ser adoptado por cidades tão diferentes como Londres e Atenas porque razão Lisboa não o faz? O anunciado projecto de investimento da EMEL em novas máquinas parece ir contra as tendências mais desenvolvidas do resto da Europa.

Foto: sinalização vertical com as instruções da cobrança do estacionamento por telemóvel num arruamento do centro de ATENAS.

Wednesday, October 7, 2009

Carta de uma munícipe: «...de largo, o Calhariz só retém o nome»




«Exmo. Presidente António Costa,

Tal como muitos outros espaços públicos de Lisboa, de largo, o Calhariz só retém o nome. Quem trabalha e vive nesta zona da cidade sabe muito bem que o antigo largo não funciona. Impõe-se uma revisão do actual modelo de infraestrutura viária e estacionamento.

Ponto de encontro do Bairro Alto, Chiado e Bica, o Largo do Calhariz é um dos mais fervilhantes espaços públicos do centro histórico de Lisboa. A circulação de pessoas é intensa, tanto de dia como de noite. No entanto, fácilmente verificamos que o largo está subdimensionado para o intenso tráfego de peões.

Com a abertura do novo silo de automóveis, na Calçada do Combro, esperávamos da CML uma remodelação do Largo do Calhariz, através do urgente alargamento dos passeios, acabando com as faixas de rodagem ocupadas com meia dúzia de lugares de estacionamento (que foram criados sacrificando passeios!). A plantação de árvores de sombra completaria esta visão de largo mais amigo dos peões e do ambiente que se deseja para o futuro.

Que o bom trabalho realizado recentemente no Largo Trindade Coelho seja repetido, muito em breve, no Largo do Calhariz.

Com os melhores cumprimentos,

Maria João Bernardo»

Nota: Carta enviada, no passado dia 7 de Setembro, ao Presidente António Costa, Vereador José Sá Fernandes e Junta de Freguesia de Santa Catarina. Apenas o presidente já acusou a recepção da carta desta munícipe. As imagens são nossas e, embora de 2008, continuam actuais.

Monday, October 5, 2009

«Terreiro do Paço renovado na Páscoa»


A requalificação do Terreiro do Paço, em Lisboa, ficará concluída até à Páscoa. O "timing" não é religioso, mas turístico. António Costa confessou que quer rentabilizar a Semana Santa e deixar os espanhóis "boquiabertos".

Agora que a megaempreitada de saneamento terminou na Praça do Comércio, as atenções voltam-se para a requalificação de todo o espaço. É preciso, por exemplo, alargar passeios, pintar fachadas e libertar os pisos térreos para o comércio e hotelaria.

O presidente da Câmara de Lisboa desafiou a Frente Tejo a imprimir um ritmo mais acelerado para que tudo esteja pronto até à Páscoa. "Nesta altura, a cidade recebe muitos visitantes, sobretudo espanhóis. Queremos recebê-los com todo o esplendor", disse ontem António Costa na cerimónia que assinalou o fim das obras de saneamento e que contou com a presença dos ministros do Ambiente e da Presidência.

O projecto que vingou após o período de discussão, prevê que a transição da placa central para o Cais das Colunas se faça com dois degraus, uma plataforma e outros dois degraus, em vez do anterior desnível de cinco degraus.

A "passadeira" que marcava o percurso da Rua Augusta até ao Cais das Colunas, foi esbatida, fazendo-se agora ao mesmo nível, em lioz. Na placa central, não haverá losango verde nem degraus em redor da estátua de D. José I, mas um círculo de pedra, num tom suave, com cerca de 30 centímetros de altura.

António Costa e a Sociedade Frente Tejo aproveitaram ainda a cerimónia de ontem para apresentar publicamente a maqueta do futuro parque urbano da Ribeira das Naus, junto aos edifícios da Marinha. Um parque que será complementar ao novo Terreiro do Paço, definido como um espaço acolhedor, com sombras e onde houve a preocupação cultural de "desenterrar património".

Biencard Cruz, presidente da Frente Tejo, revelou que será desenterrado o antigo cais da Caldeirinha. A doca seca também ficará à mostra, o mesmo acontecendo com as fundações do Palácio Corte Real (que ruiu no terramoto), que tomam a forma de uma estação arqueológica acessível ao público.

Segundo o desenho ontem apresentado, serão ainda recriadas as antigas rampas de lançamento dos barcos (vão ter relva para servir de espaço de lazer) e uma praia urbana a lembrar a que existiu antes de 1755, com uma escadaria para permitir que os lisboetas possam molhar os pés no rio Tejo.

Falta agora acertar um perímetro de protecção ao edificado da Marinha, que ficará inacessível para o público, e concluir o projecto para que a obra esteja pronta em 2011. O estudo prévio tem tido "uma boa aceitação geral" e a Câmara já deu parecer favorável.

in JN, 29 de Setembro de 2009

Fotos de Joshua Benoliel e Eduardo Portugal, c.1910. Arquivo Municipal

Thursday, October 1, 2009

VOLUNTARIADO DE APOIO AOS SEM-ABRIGO: 2 de Outubro

VOLUNTARIADO DE APOIO AOS SEM-ABRIGO
INFONATURE.ORG - NÚCLEO DE SOLIDARIEDADE
Projectos de apoio aos sem-abrigo e pessoas carenciadas

DIA 2 DE OUTUBRO

Ponto de encontro: 20.30h no Jardim Constantino (Metro Saldanha ou Arroios)

Contactos: Marta Leandro 96 424 68 98 (é necessário confirmar presença)

O que pode levar: alimentos como frutas / bolachas / sandes / chá / etc (p.f. não cozinhe carnes de propósito para levar, somos uma organização que promove o vegetarianismo. Saiba porque em http://www.avp.org.pt/ ), roupas, calçado, livros, cobertores, entre outros objectos que achar útil para distribuir pelos sem-abrigo.

Saiba mais do que pode levar, do que se vai fazer e do projecto em si através do link http://infonature.org/site-pt/node/19

Foto: Sem-abrigo nas arcadas da Praça do Comércio (2006)