Wednesday, August 25, 2010

Pedras da calçada abrem guerra entre junta de freguesia e câmara

In Diário de Notícias (25/8/2010)
por DANIEL LAM

«O problema das pedras da calçada que se soltam e vão abrindo buracos no passeio está a gerar polémica entre o presidente da Junta de Freguesia de S. Nicolau, António Manuel, e o vereador Fernando Nunes da Silva, da Câmara de Lisboa. O primeiro critica o facto de o vereador não ter feito um protocolo com a junta para ela própria tratar da reparação dos passeios e evitar que os buracos cresçam mais. Nunes da Silva considera que este facto terá levado António Manuel a insurgir-se contra o novo plano de tráfego na Baixa e a exigir que não entre em vigor já em Setembro, como previsto.

António Manuel referiu ao DN que o vereador da Mobilidade, Fernando Nunes da Silva, "fez protocolos de reparação da calçada com todas as juntas de freguesia de Lisboa, excepto com a de S. Nicolau e outras três da Baixa: Santa Justa, Santiago e Castelo". Adianta que, para justificar essa decisão, o vereador "diz que, como é calçada artística, essas reparações só podem ser feitas pelos calceteiros da câmara".

O presidente da junta discorda, salientando que "a freguesia de S. Nicolau tem 22 arruamentos e 16 deles não têm calçada artística. É tudo branco". E elogia o calceteiro que presta serviço na sua junta de freguesia, frisando que "é competente, tem experiência e sabe fazer o trabalho em condições" (ver caixa).

"O nosso calceteiro poderia rapidamente resolver o problema e evitar que os buracos fossem ficando cada vez maiores. Nós comunicamos à câmara e só vão fazer a reparação duas ou três semanas depois, quando os buracos já estão enormes", denuncia António Manuel.

Na sua opinião, "o problema é que o vereador não faz nem deixa fazer. E não se percebe isto, porque quando há obras da EDP, da EPAL, da PT e de outras empresas, que implicam abrir buracos na calçada, são os funcionários deles que depois colocam a calçada e não os calceteiros da câmara".

Fernando Nunes da Silva, vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, encara estas críticas como uma reacção negativa ao facto de S. Nicolau ser "uma das poucas juntas de freguesia que não recebeu uns milhares de euros pela transferência de competências da câmara para a junta, relativamente à reparação da calçada".

Segundo explicou ao DN, "aquela freguesia tem calçada com desenhos e os trabalhos de reparação têm de ser feitos por profissionais para manter em condições a tradicional calçada portuguesa".

"Há pessoas que não respeitam esses pormenores. Juntam as pedras ao lado umas das outras sem se preocuparem em acertar os encaixes correctamente. Ficam grandes intervalos entre as pedras, que depois tapam com areia e cimento", contestou o vereador.

Sublinhou que, "por vezes, não respeitam a face correcta da pedra e colocam-na ao contrário, com a face menos brilhante para cima. Depois o conjunto não fica uniforme, porque umas pedras são mais brilhantes e outras mais baças".

O vereador admitiu que "a câmara só tem agora uma brigada de calceteiros, porque todos os outros foram embora trabalhar para outras empresas que lhes pagam o dobro ou o triplo do que recebiam na autarquia".

Explicou que estes calceteiros "estão sediados junto ao Martim Moniz, pelo que rapidamente se deslocam à Baixa para fazerem as reparações necessárias".

Por tudo isto, conclui o vereador, "não se justifica fazer a transferência de verbas nem de competências para a Junta de Freguesia de S. Nicolau nem para as outras três da zona histórica".»

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