«20 anos do Incêndio do Chiado»: debate que se realizou no dia 15 de Dezembro, às 18h30 no Centro Nacional de Cultura, no Largo do Picadeiro. O Arquitecto Álvaro Siza Vieira, após ter feito uma introdução sobre as circunstâncias que o levaram a dirigir o plano de reconstrução, respondeu a perguntas colocadas pelo público. Algumas ideias e reflexões saídas das 2 horas de conversa:
O Plano de reconstrução: «A Baixa-Chiado é um grande edifício»
«O Plano da Baixa era um plano de vanguarda para a época. Era preciso reconhecer a força vanguardista da proposta arquitectonica pombalina.» «Para a arquitectura moderna há tanto território, não é preciso sacrificar a cidade histórica.»
«Recusei-me a ceder às pressões para a construção de parques de estacionamento em cada um dos 18 edifícios afectados pelo incêndio. Para além de ser pouco viável (pois os lotes de cada prédio eram pequenos e só as rampas ocupariam imenso espaço) isso teria destruído a vivência que se queria para as ruas com comércio tradicional [de facto, seria um absurdo ter entradas de garagem de poucos em poucos metros, a interromper a vivência pedonal das ruas]
«Houve também muitas pressões para fazer um mini-centro comercial em cada prédio. Foi só depois de muitos debates e argumentação que os proprietários se convenceram que não era essa a vocação do Chiado. As pessoas vão ao Chiado por causa das lojas com entrada directa da rua - é essa permeabilidade que era importante preservar na reconstrução. Mas houve cedências - há um desses espaços na Rua do Carmo mas pelo que sei aquilo não funciona. As pessoas não se sentem atarídas por aqueles espaços pequenos em cave sem ligação à rua. O tempo deu-nos razão.»
Caixilharias: «As janelas estão aí para serem copiadas»
«É impossível manter a expressão elegante das caixilharias originais das janelas com a introdução do vidro duplo. O vidro duplo exige caixilharias muito grossas. A solução que encontramos foi manter no exterior as janelas originais em madeira e vidro simples - iguais às que estão aí - e por dentro instalamos uma segunda janela para obter o conforto ambiental.»
Circulação rodoviária: «As ruas de sentido único prejudicam as cidades.»
«Acaba por ser uma moda. Há cidades e vilas de província que já implementaram o sistema de ruas de sentido único e no entanto não têm qualquer problema de congestionamento.» «Pessoalmente não acredito que, a médio e longo prazo, traga algo de bom às cidades.»
Animação da Baixa-Chiado: «As cidades também precisam de dormir.»
[Exactamente! Começa a ser uma paranoia estar sempre a falar de "animação" - que em muitos casos mais não quer dizer que "comercialização do espaço público e monumentos, de que são exemplos lamentáveis a presença da TMN na Praça do Comércio]
Ficamos também a saber que o Arquitecto Siza já entregou à CML o Projecto de execução para a zona envolvente ao Convento do Carmo. Deste projecto faz parte, para além da conclusão da ligação pedonal entre a Rua Garrett e o Largo do Carmo (pelo interior do quarteirão), a criação de um novo jardim e miradouro na antiga cerca do convento. Informou também que a CML garantiu que há dinheiro para avançar com o projecto. Aguardemos...
Foto: estado actual da envolvente do Convento do Carmo / Elevador de Santa Justa, 20 anos depois do incêndio!
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