Friday, March 28, 2008

Projecto para a Baixa Pombalina

Seguindo o repto da CML e também de Paulo Ferrero aqui vai a proposta que apresentei como Tese de Mestrado nos EUA em 2003.

As propostas apresentadas para a Baixa na reunião publica da CML de ontem têm um generalizado consenso, e são substancialmente diferentes da anterior. No entanto e apesar de achar que o PDM e o seu regulamento assim como outros instrumentos de planeamento se encontrarem desajustados com a realidade, julgo ser prematuro fazer quaisquer alterações sem um plano de pormenor se encontrar pronto, apesar das propostas serem pontuais.

Congratulo-me com o principio base, enunciado por Manuel Salgado de que o plano já existe.

É o de Eugénio dos Santos para a reconstrução de Lisboa realizado em 1758. Sempre o afirmei!

Este plano deve ser a base de recuperação e revitalização da Baixa, tal como em Barcelona se prolongou a malha ou o plano de Cerdá “cozendo” a malha nos locais necessários.A proposta urbana pombalina, desenhada no século XVIII, coloca Portugal na vanguarda do planeamento urbano a nível mundial, e é referida como o primeiro Case Study no mundo de ground zero , por vários especialistas. Por reconhecer este mérito, da sua intemporalidade ou aquilo a que chamo “a inevitabilidade do passado” , realizei a minha tese de mestrado nos EUA, apresentando uma proposta para a reconstrução da frente histórica pombalina de Lisboa.

A minha tese teve como orientadores, excelentes professores de renome mundial, Carroll William Westfall, Norman Crowe, David Mayernik, Victor Deupi e Michael Likoudis, tendo este ultimo professor apresentado o meu projecto no AIA Congress (American Institut for Architects) no Union Club em Nova Iorque em Dezembro de 2003, por reconhecer que a base do desenho urbano tradicional é efectivamente a melhor solução para a revitalização das cidades. E que Lisboa é efectivamente o the best case study.

O professor Michael Likoudis é actualmente o Director da Escola de Arquitectura da University of Notre Dame, esta universidade da qual fui bolseiro é considerada pela revista Urban Land, como a 2ª melhor a seguir à UM (University of Miami) para no ensino do planeamento urbano da nova corrente New Urbanism.

Lisboa é a unica cidade com possibilidades de revitalizar de forma economica e socialmente seu centro historico sem descaracterizar o seu conjunto. Estou convencido que esta minha intervenção iria trazer largos benefícios económicos uma vez que os terrenos são maioritáriamente senão mesmo a totalidade do estado e da autarquia.

Uma intervenção que iria restabelecer e valorizar a frente histórica da cidade de Lisboa.

Os três principios fundamentais para a revitalização da Baixa são:
Terreiro do Paço


1º- Espaço urbano: Redefinir a Praça do Comércio, única no mundo, como a praça de excelência, não permitindo que os espaços urbanos vazios do Campo das Cebolas e o espaço materializado pelo Arsenal da Marinha possam competir directamente com o Terreiro do Paço.Esta situação obriga a: reformular o desenho da praça (desta forma o centro deixará de ser a estatua do rei e tornando a mais universal ou ecuménica); a necessária construção das coberturas dos torreões para acentuar a própria praça; a deslocação do terminal fluvial para Santa Apolónia realizando um verdadeiro interface de transportes tal como o do Cais do Sodré.


Campo das Cebolas
2º- Sistema viário: Redesenhar a avenida marginal com faixa central para electricos rápidos, afastando-a um pouco mais para a frente ribeirinha com cruzamentos à superficie, previligiando a praça em frente a Santa Apolónia, e o acesso pedonal ao rio.O facto de existir atravessamento viário fortemente semaforizado, e bossas ou desnivelamento nas passagens de peões (a nível com os passeios) irá obrigar não só a velocidades reduzidas como será dissuasor a sua utilização frequente como atravessamento da cidade. Aproveitamento da doca do Jardim do Tabaco para um mega estacionamento subterraneo.

Museu Militar

3º- Habitação: Componente fundamental a revitalização, o redesenhar da malha urbana permitirá a construção de novos quarteirões de habitação ao longo da frente rio. Estes edíficios teriam todos comercio no piso terreo mas com uma largura ou profundidade de 10m previligiando a frente de rua e portanto com mais montra enquanto que os pisos de habitação com 15m de largura, desta forma o logradouro ficaria sobrelevado (a uma cota de loja e sobreloja), desta forma permitindo estacionamento no interior do quarteirão sem caves. A capacidade do quarteirão em estacionamento define o numero e dimensão dos fogos.Restabelecer a aresta cidade-rio foi sem duvida a minha primeira preocupação, dando relevância à intenção do desenho urbano e sua natural evolução em deterimento de eventuais antiquarismos sem expressão numa cidade so século XXI. Por este motivo “fechei” o vazio urbano do Arsenal da Marinha e no Campo das Cebolas.



Arsenal da Marinha

Obviamente que existem situações pontuais, tal como a instalação de um elevador publico num prédio da Rua do Arsenal para levar as pessoas ao Largo da Biblioteca Nacional, utilizando para o efeito o logradouro e acesso existente entre edificios na Rua Victor Cordon, esta situação permitirá o prolongamento do Chiado comercial a Rua Ivens, e a reabilitação do Convento de São Francisco; o aproveitamento comercial das arcadas da Praça do Comercio; cruzamento desnivelado da Rua da Fundição junto ao Museu Militar constituindo um arco tal como o da Rua de São Paulo.



Como conclusão e demonstrando a inevitabilidade do passado, como inspiradora nas proposta para o futuro, a perspectiva desta minha proposta é apresentada como um painel de azulejos barroco, uma técnica tradicional portuguesa, a exemplo das muitas que retratam imagens por este mundo fora da nossa cidade de Lisboa.

Este trabalho foi realizado com o apoio de computador em 2 e 3D, redesenhados e transposto para papel, pintados a aguarela em formato A1. Mestrado concluído em 2003, como Bolseiro da University of Notre Dame, da FCG e da FLAD.


Gonçalo Cornélio da Silva

1 comment:

Unknown said...

Boa tarde Eng.Gonçalo
O meu nome é Igor e estou a tirar o mestrado em Engenharia Civil. Tenho neste momento de fazer um trabalho, coisa simples, sobre a reabilitação do Campo das Cebolas, e como me agradou bastante as suas ideias gostaria de saber se é possivel discutir e até receber alguma ajuda de sua parte.
O meu contacto é: igorpestana@gmail.com

Cumprimentos, obrigado.