Wednesday, May 20, 2009

Museu do Design é "um choque vitamínico" para a Baixa de Lisboa

In Público (20/5/2009)
Inês Boaventura

«Em Junho, o Mude, que agora ocupa apenas um piso, estende-se ao 1.º andar do edifício da Rua Augusta, e com a ambição de alcançar o terraço

O presidente da Câmara de Lisboa acredita que o Museu do Design e da Moda (Mude), que é inaugurado amanhã no número 24 da Rua Augusta, "vai ser um grande choque vitamínico" para esta zona da cidade, constituindo "uma grande oportunidade para se conseguir revitalizar a Baixa sem um terramoto, como no século XVIII, e sem um incêndio, como no século XX".

É uma "antestreia" aquilo a que os visitantes do museu poderão assistir, de forma gratuita, durante o primeiro mês, enquanto não avançarem as obras de adaptação definitiva da antiga sede do Banco Nacional Ultramarino às suas novas funções museológicas. Por agora, a exposição ocupa apenas o piso térreo, com uma área aproximada de 1200 metros quadrados, na qual é apresentada mais de uma centena de peças do mundo do design e da moda.
O projecto expositivo é dos arquitectos Ricardo Carvalho e Joana Vilhena, e, como constatou a directora do Mude, confrontaram-se com "um edifício de grande personalidade", da autoria de Cristino da Silva e cujo piso térreo é dominado por um balcão de mármore de grandes dimensões. Apesar da "decadência" a que o espaço estava votado, "tirar partido das pré-existências" foi uma das maiores ambições, diz Bárbara Coutinho.
Francisco Capelo, que em 2002 vendeu à Câmara de Lisboa, por 6,6 milhões de euros, a colecção com 2500 peças que constitui o acervo do Mude, conduziu ontem uma visita guiada à exposição, que se desenvolve num espaço descarnado e semi-destruído, com um aspecto tosco e inacabado. Sem nada que lhes roube o protagonismo, as peças assentes em estrados de madeira pintados de branco têm assim todo o destaque, permitindo aos visitantes diferentes leituras e percursos.

Cadeira histórica
Patente até Outubro, e de acordo com informação do museu, a exposição Ante-estreia revela um conjunto de objectos que "protagonizaram mudanças profundas ao longo do século XX", e que ali "vivem em espaços encenados, em diálogo com excertos de filmes, música e imagens de época". Por isso, não é de estranhar que junto da cadeira Classic, desenhada por Hans Wegner em 1949, seja projectado um filme do debate televisivo entre Kennedy e Nixon, no qual esta peça de mobiliário foi utilizada. Também obras do design e da moda convivem em ameno diálogo, sendo natural que se encontre um rádio-gramofone de 1956, da autoria de Dieter Rams e Hans Gugelot, ao lado de um vestido de noite violeta, do fim dos anos 50, de Hubert de Givenchy.
A partir de 4 de Junho, o Mude estende-se ao primeiro andar, que vai receber a exposição de retratos políticos Ombro a Ombro, comissariada pelo Museu de Design Zurique. Em Outubro é inaugurada a exposição É Proibido Proibir!, que, 40 anos depois do Festival de Woodstock, "evoca o período flower power, o espírito de contracultura, radicalidade e a contestação dos movimentos de Design Radical e Anti-Design".
O presidente da Câmara de Lisboa afirmou estar "certo de que não faltarão muitos anos para o museu conseguir conquistar o segundo andar e por aí acima até ao terraço", concretizando, em declarações ao PÚBLICO, que espera que tal aconteça "bastante antes" de 2011, data que chegou a ser apontada por Bárbara Coutinho em ocasião anterior. Até porque, disse António Costa, "a pressão do público obrigar-nos-á a acelerar para que toda a colecção seja exposta".
5,5

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Hipótese colocada por António Costa

Mude contra a divisão do espaço com a Experimenta


A Câmara de Lisboa está a equacionar a instalação da ExperimentaDesign no edifício do Mude, hipótese que desagrada à directora do espaço museológico que abre as portas amanhã. "Por favor! Ganhámos agora uma casa. Deixem-nos descansar!", disse ao PÚBLICO Bárbara Coutinho, quando confrontada com a possibilidade de ter de partilhar o espaço pelo qual esperou longos anos. "Cada instituição tem a sua identidade, as suas necessidades. E cada instituição tem de ter o seu espaço, a sua área, o seu programa", disse a directora do Mude. Bárbara Coutinho frisou ainda que no discurso do presidente da autarquia proferido ontem na visita ao museu "não houve nenhuma referência" à instalação da ExperimentaDesign no número 24 da Rua Augusta, pelo que, em seu entender, "a resposta está dada". Mas o entendimento da Câmara de Lisboa é diferente, admitindo um assessor de imprensa que "é uma hipótese" em estudo. A directora da ExperimentaDesign adiantou que a única coisa certa é a ideia de instalar na Baixa, que se quer "tornar um pólo criativo", um grupo que inclui também o Centro Português de Design e a Trienal de Arquitectura, sendo que "não está de todo fechada" a ideia de onde vai funcionar o projecto. O edifício do Mude, diz Guta Moura Guedes, "é uma hipótese muito recente, que não foi ainda discutida em colectivo". »

Pode ser um choque vitamínico, e espero que sim. Um choque vitamínico para a Baixa, sim, mas não para a Experimenta Design, como é óbvio. Mas duvido que um museu só para alguns (falemos sério) seja a resolução de problemas como: comércio em morte anunciada, degradação do espaço público e do mobiliário urbano, mendigagem indiscriminada, prédios devolutos e em ruína, uns, em regime de especulação imobiliária (vide o edifício do anigo Hotel Francforte), outros, à espera de decisão (vide o Corpus Cristi), proliferação de elementos espúrios (ex. respirador do Metro no Rossio, antenas e anexos clandestinos no topo dos edifícios (ex. anexo da Pollux, anexo do Rossio, em edifício ao lado do Hotel Metropole), etc., etc. e, essencialmente, uma Baixa sem moradores e desértica à noite. Oxalá o MUDE ajude, sim, e que NÃO ESTRAGUEM o pouco que resta do edifício primitivo de Cristino da Silva, S.F.F.

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