“A incompetência e a ganância do homem, do lisboeta de raiz ou de importação, transformaram, para lá do limite do suportável, a imagem da Baixa e esconderam as suas enormes virtudes e potencialidades. Ao progressivo abandono da habitação, à invasão do comércio e serviços, muito além do necessário e tolerável, associou-se a vontade de alterar, tantas vezes ditada por motivos fúteis e passageiras inspirações modistas, ao mesmo tempo que a especulação tomou também ali o freio nos dentes, justificando ampliações e destruições que puseram em causa, objectivamente, o [seu] futuro (…). Repete-se, apenas como reparo, que o acto de criação da Baixa foi, antes de tudo, um exercício de vontade e que, para a concretização desse exercício foi necessário contar com todos, mas foi igualmente essencial lutar contra muitos. E, se é verdade que a História não se repete, é conveniente repetir o que a História ensina”.
(Excerto da comunicação apresentada pelo Eng. João Appleton nas Jornadas “A Baixa Pombalina e a sua importância para o Património Mundial”)
Nessas mesmas jornadas, realizadas em Outubro de 2003, um momento houve que as marcou de forma indelével: à chegada à mesa do então presidente da CML, Pedro Santana Lopes, o enorme painel alusivo aos trabalhos caiu subitamente da parede. Entre o cómico e o desconfortável que situações destas sempre suscitam, foi impossível à assistência não sentir um arrepio da primeira à última fila: era como um sinal premonitório.
O sinal premonitório repete-se hoje, como já antes da queda aparatosa desse painel acontecera tantas vezes no passado. Repete-se agora a coberto de um conjunto de “projectos estruturantes” e, lendo-se nas entrelinhas, de uma porta declaradamente aberta a uma bateria de intervenções irreversíveis, porventura bem mais graves que as clandestinamente realizadas na Baixa até aqui. Há muito que os apetites deixados livres pelo resto da cidade aguardavam por este momento: o de ver, em letra de forma, um sinal para avançar.
Créditos imagem: vista área da Baixa, s/data; Inventário do Património Arquitectónico da extinta Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN)
(Excerto da comunicação apresentada pelo Eng. João Appleton nas Jornadas “A Baixa Pombalina e a sua importância para o Património Mundial”)
Nessas mesmas jornadas, realizadas em Outubro de 2003, um momento houve que as marcou de forma indelével: à chegada à mesa do então presidente da CML, Pedro Santana Lopes, o enorme painel alusivo aos trabalhos caiu subitamente da parede. Entre o cómico e o desconfortável que situações destas sempre suscitam, foi impossível à assistência não sentir um arrepio da primeira à última fila: era como um sinal premonitório.
O sinal premonitório repete-se hoje, como já antes da queda aparatosa desse painel acontecera tantas vezes no passado. Repete-se agora a coberto de um conjunto de “projectos estruturantes” e, lendo-se nas entrelinhas, de uma porta declaradamente aberta a uma bateria de intervenções irreversíveis, porventura bem mais graves que as clandestinamente realizadas na Baixa até aqui. Há muito que os apetites deixados livres pelo resto da cidade aguardavam por este momento: o de ver, em letra de forma, um sinal para avançar.
Créditos imagem: vista área da Baixa, s/data; Inventário do Património Arquitectónico da extinta Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN)
2 comments:
Pergunto, porque não sei: quando será reposto o cais das colunas e arranjado todo o espaço à beira-Tejo?
Cara Odete,
Não lhe sei responder.
O que sei é que será impossível recolocar o cais tal qual ele era, porque não estou a ver como é que vão retirar a enormíssima banca de areia e pedra que deixaram aparecer no sítio onde estavam as escadarias do cais.
Acho que vão falsear o cais, recolocando-o bem à frente do sítio onde estava.
Aguardemos.
Abr.
Post a Comment