Tuesday, July 8, 2008

MEDO DO CHIADO EM FOGO NA BAIXA



in Diário de Notícias, 7 de Julho de 2008

«Incêndio abocanhou seis andares de um prédio em apenas meia hora»

«O prédio numero 23 da Avenida da Liberdade mudou em minutos. Estava escuro, devoluto, como sempre. Um mono, entre um prédio igualmente pombalino ainda habitado, do Calçado Guimarães e o prédio novo, verde alface, da Vision Lab. Por volta das 10 e 45 da noite de ontem, o número 23 começou a iluminar-se, a ficar vermelho por dentro das janelas do segundo andar. E estalaram as janelas fazendo barulho inequívoco.

Era um incêndio, um dos maiores medos dos habitantes dos prédios velhos da Av. da Liberdade. Por isso alguém ligou logo para o 112, mas antes dos bombeiros - e foram muito rápidos, com tantas corporações ali ao pé - já se tinha espalhado até ao último andar, o sexto, ultrapassando-o numa altura do que seriam aí uns dez. Labaredas saíram rápidas destruindo o telhado. E iam iluminando o céu de vermelho, aquecendo a noite fria de Verão.

Viram-no primeiro os turistas e noctívagos sentados na esplanada que fica mesmo em frente, junto à entrada do Parque de Estacionamento dos Restauradores. E os dos restaurantes. Um dos primeiros a ver o incêndio foi o empregado de um dos restaurantes que tinha vindo a rua apartar "dois clientes desavindos", como dizia aos jornalistas.

"Gente que ainda estava por aí", conta José Martins, manga cava de quem estava a ver televisão em casa e foi alertado pelas inúmeras sirenes dos bombeiros. E eram muitos os que continuavam a chegar, a Av. da Liberdade cortada ao trânsito por carros da polícia na horizontal.

Pelo menos 80 homens estiveram no combate às chamas. Os carros foram sendo retirados do passeio deste quarteirão, por reboques da polícia que foram chegando.

Os vizinhos foram retirados do número 21, e ficaram ali de coração nas mãos, mas muito perto, de onde a polícia não retirou as pessoas apesar das faúlhas que iam caíndo da violência rápida das chamas. Luis Costa estava em casa, deitado, quando ouviu os vidros do prédio ao lado rebentar com o fogo. Fechou a água e o gás e saiu para a rua. E assisitiu ao incêndio a comçar a pegar ao telhado do seu prédio. "Isto é como o Chiado", dizia José Martins, que mora na Travessa da Glória, ali mesmo ao lado, clarificando ofantasma que muitos tinham na cabeça. "Is it an old building?", um alemão perguntava em inglês se o prédio era antigo, como quem não conhece Lisboa (ainda). "Isto é só politiquice", dizia Paulo Carvalho, fazendo referência a outro fantasma desta zona, a especulação imobiliária. Dá sempre jeito a destruição de um prédio devoluto.

À hora de fecho desta edição, o maior medo dos polícias era que o fogo se espalhasse aos prédios da rua de trás, a Rua da Glória. No prédio as chamas ainda não tinham sido apagadas. E havia suspeita de que já estava a alastrar-se aos outros.»

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