Thursday, April 9, 2009

Aprovada transformação de quarteirão da pastelaria Suíça em hotel






In Lusa

«A Câmara de Lisboa aprovou hoje o projecto de arquitectura que vai transformar o quarteirão da pastelaria Suiça, na Rossio, num hotel de cinco estrelas.

O presidente da Câmara, António Costa (PS), considerou que o projecto irá dar
um "grande contributo à reabilitação e revitalização da zona central da
cidade". O quarteirão encontrava-se "há muito abandonado", sobretudo ao nível dos
pisos superiores, referiu.

O projecto foi sujeito a parecer do Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), acrescentou o vereador do Urbanismo,
Manuel Salgado.

O movimento Cidadãos por Lisboa votou contra o projecto, porque prevê o acesso
a estacionamento pelo Rossio e pela Praça da Figueira, bem como locais para
tomada a largada de passageiros, em ambos os locais, justicou a vereadora
Helena Roseta. Helena Roseta criticou ainda que a transformação do quarteirão em hotel não leve em conta a preservação da antiga "manteigaria União", uma "jóia" de
valor patrimonial.

O vereador comunista Ruben de Carvalho destacou a degradação em que os edifícios se encontram, considerando que a criação de um hotel assegura movimento na zona e mantém algum do comércio existente.

Como o hotel terá duas frentes - uma para Rossio e outra para a Praça da Figueira - Ruben de Carvalho questionou apenas a inexistência de uma "saída de serviço" da unidade hoteleira.»


Fotos: FJ


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Há que dizê-lo: este projecto melhorou bastante em relação ao projecto anterior. Mas ainda mantém algumas coisas más, sendo que para mim as piores são mesmo o que farão em relação às mansardas de Mardel (removê-las por soluções 'contemporâneas'? recuperá-las com a mesmíssima traça e com telha igual?) e com a fachada, mobiliário e pinturas da antiga Manteigaria Martins & Rebelo, na Rua do Amparo.

O que é hoje uma papelaria foi até há 30 anos uma das antigas manteigarias mais bonitas da Lisboa. Em qualquer cidade gerida por pessoas com bom gosto, e com empresários hoteleiros e restauração com bom gosto, o que resta da manteigaria (não só a belíssima fachada que dá para a Rua do Amparo e para a Praça da Figueira, mas sobretudo os interiores, feitos de mobiliário de época em estado perfeito e tectos pintados) seria preservada e incorporada como mais-valia, que de facto é, para o futuro hotel, ou como sala de época no âmbito da ampliação que se prevê da Pastelaria Suíça (cujo recente 'new look' alterou radicalmente a sua imagem interior, mas que teima em levar uns preços tão altos que só mesmo turistas incautos é que os suportam, face à qualidade do serviço, mas enfim, isso são outras histórias).

Mas não. A CML não só ignora o valor desta antiga manteigaria, nem sequer a incluindo no Inventário Municipal (porquê?), como apenas aconselha o promotor a manter o mobiliário e a decoração em vez de EXIGIR. Mais, adianta mesmo que se for desmantelada, porderá ir para o Museu da Cidade (está na moda, agora, esse procedimento).

Está pois na mão do promotor, o futuro deste património. Mais uma vez, tal como com o último dos correeiros e muitas outras lojas históricas, a CML é cega e permissiva.

Em qualquer cidade italiana ou francesa, é comum ver-se espaços como este adaptados a salões de chá, chocolaterias, etc., que fazem parte de um roteiro de verdadeiro 'charme'. Em Lisboa, escasseiam. E não acredito que este promotor saiba o que tem em mãos. Se a CML abdica do seu papel, e se o IGESPAR, objectivamente, já era, que nos restará fazer?

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