Saturday, August 8, 2009

«Quero ir às compras a pé posso?»


«Em relação à pedonalização das ruas cada vez que o assunto é abordado surgem na comunicação social opiniões contrárias ou fortemente reticentes de Associações Comerciais, do lobby dos automóveis, de Confedarações do Comércio , etc... (Comerciantes com queixas da pedonalização das cidades - PÚBLICO-03.08.2009)

Ora o comércio consiste numa relação de troca de bens e serviços entre duas partes - o comprador e o vendedor. Ambas as partes são necessárias para que a relação comercial se processe.

O que temos assistido na comunicação social é a um "direito de antena" exclusivo aos comerciantes, ou seja à componente vendedora das transacções comerciais, que fala em nome da componente compradora - o consumidor, mostrando capacidade de adivinhar, sem bases científicas quaisquer, as preferências dos compradores apenas pelos números das vendas de alguns retalhistas.

Posto isto lanço a questão: as grandes superfícies não são elas próprias grandes zonas pedonais,livres de ruído, de ar poluído, de riscos de atropelamento ao atravessar as vias de uma loja para a outra? Porque é que não auscultamos mais as preferências dos consumidores, no que toca à actividade de fazer compras, para que possamos adaptar o comércio tradicional às suas preferências?

Talvez cheguemos à conclusão, como vemos no caso da Rua Augusta na baixa de Lisboa, que a pedonalização e requalificação das ruas dando prioridade aos peões é uma mais valia para o comércio tradicional, acautelando sempre a acessibilidade às zonas de comércio através das diversas formas de transporte, de uma forma integrada e coerente.

Mais direitos aos peões e mais zonas pedonais e de acalmia de tráfego, não implicam, como tem vindo a ser mencionado erradamente, uma quebra de competitividade do comércio tradicional, mas antes tornam as condições do comércio tradicional mais próximas das excelentes condições de circulação pedonal a que os compradores têm acesso nas grandes superfícies - é esta a experiência que tenho constatado nas cidades europeias com maiores indíces de qualidade de vida e satisfação do seu tecido social e comercial.

Deixo o desafio - que as entidades associativas que defendem o comércio tradicional se preocupem, com o mesmo determinado empenho que revelam em relação à questão dos automóveis, em modernizá-lo em termos de imagem, de qualidade dos bens e serviços oferecidos, de diversidade e preços competitivos.»

Nuno Xavier

in http://passeiolivre.blogspot.com/

Fotos: Rua da Madalena e Rua dos Fanqueiros

No comments: