Tuesday, May 20, 2008

Afundando-se...


No passado dia 15 foi publicada, em Diário da República, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 78/2008, relativa à valorização da frente ribeirinha de Lisboa, a desenvolver a contra-relógio, para assinalar a tempo o centenário da implantação da República.

É certo que se trata de um documento de enquadramento geral, mas é estranho que, relativamente ao edificado do Terreiro do Paço, não haja uma alínea que aluda à resolução dos gravíssimos problemas estruturais que afectam a sua ala poente. Para os ver, não é preciso recorrer a equipamentos sofisticados de monitorização - basta que estejamos na esquina com a Rua do Ouro para ver a olho nu como toda essa ala do Terreiro do Paço forma um arco cada vez mais pronunciado. Tal como cada vez mais pronunciado está o assentamento do torreão desta mesma ala.

Os problemas neste ponto da praça não são de hoje – já existiam quando Filippo Terzi projectou o seu portentoso torreão para o Paço Real -, mas essa circunstância não nos dá desculpa, nos nossos dias, para que não se actue. Seria, pois, de esperar que, estando este documento carregado de alusões ao “glorioso século XVI” e outras ambições, esta fosse uma oportunidade para começar pelas fundações e não pelo telhado...

Mas, aparentemente, é pelo telhado que se vai começar. As palavras empregues indiciam-no, aliás: o texto, denso e extenso, está polvilhado de termos como “centralidades”, “sinergias” e “funcionalidades”, entre outros chavões por regra vazios, mas muito em voga. Na mesma linha se inserem os projectos para os torreões do Terreiro do Paço, para os quais, uma vez desocupados, se pensa “conceber formas de utilização inovadoras”, por via de um “aproveitamento que permita ancorar actividades de criatividade, inovação e excelência”. Ao passar por cima da raiz do problema, depreende-se que é irrelevante para o Estado que um deles esteja literalmente a afundar-se.

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