Tuesday, April 28, 2009
Passadeira de pedra a cortar Terreiro do Paço ao meio inquieta participantes em debate
Ana Henriques
«Sociedade Frente Tejo continua sem divulgar desenhos que permitiriam perceber melhor o projecto de reabilitação da praça
O projecto de dividir o Terreiro do Paço ao meio com uma passadeira de pedra, para assinalar o percurso entre o arco da Rua Augusta e o Cais das Colunas, foi ontem recebido com inquietação por vários dos participantes numa conferência dedicada às praças da Europa que decorreu no Centro de Informação Urbana de Lisboa.
Apesar de o autor do projecto de reabilitação da Praça do Comércio, Bruno Soares, ter estado presente no debate, ainda não foi desta que foram tornados públicos os desenhos que poderão tornar mais claro o que pretende fazer este arquitecto do local. Bruno Soares disse que ainda não tinha chegado a altura de os mostrar.
Ao certo, sabe-se que o projecto que a sua equipa está a elaborar para a Sociedade Frente Tejo, entidade encarregue de recuperar para o usufruto da população alguns troços da zona ribeirinha, prevê o alargamento em 20 metros dos passeios junto às arcadas do lado poente e nascente, de modo a que ali possam ser instaladas esplanadas. Já a placa central deverá estar liberta desse tipo de equipamentos. Para o arquitecto, é um erro fazer comparações entre o Terreiro do Paço e algumas praças espanholas com esse tipo de ocupação no seu centro, como Salamanca ou Valladolid, uma vez que se trata de locais com características diferentes: desde logo a dimensão - a praça portuguesa é muito maior -, e depois a situação geográfica da Praça do Comércio, que é aberta ao rio. "É inóspita, tem muito sol e vento. Seria um grande erro colocar quiosques e esplanadas no centro para fazer com que as pessoas para lá fossem", observou. Também por questões de escala, Bruno Soares pensa não ser de voltar a colocar no local as árvores que já lá existiram no final do séc. XIX: se fossem suficientemente imponentes tapavam os edifícios; se fossem demasiado pequenas ficariam ridículas numa praça tão grande. Quanto à passadeira, servirá para encaminhar os peões em direcção ao rio - segundo o arquitecto, não fará grande contraste com o restante pavimento da praça, devendo ficar ao mesmo nível que este.
Conhecida pelo seu desempenho à frente de vários museus, a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva não hesitou em admitir as suas reticências em relação a vários aspectos do projecto. Além da inquietação que demonstrou sobre a passadeira para os peões, criticou a prevista abertura de um hotel de charme num dos edifícios do Terreiro do Paço. "E a ocupação das arcadas apenas com funções comerciais e turísticas é um erro", preveniu. O que Raquel Henriques da Silva gostaria de ver no local era um pólo do Museu da Cidade dedicado à época pombalina que permitisse aos turistas perceber a história do sítio. E, acima de tudo, que a intervenção a que a Praça do Comércio vai ser sujeita seja mínima.
Quanto à animação domingueira ali promovida pela autarquia, a historiadora de arte espera que não regresse, porque se tratou "de um desastre absoluto". »
E o problema maior nem é esse, como já toda a gente percebeu isso. O problema maior divide-se em dois: A que propósito é o Arq. Bruno Soares o autor do projecto, e não é outro qualquer? A que propósito é que se quer transformar a placa central numa malha de losangos amarelos ocre, em areão, debruados a cinzento, e sob o pedestal fazer-se um losango grande em verde; e depois, defronte à marginal, uma bancada de cerc a de 1m de altura com dois degraus?
Parece que ainda não foi desta que o powerpoint foi divulgado, o que é estranho. A coisa só foi divulgada em sessão privada de CML e as extrapolações feitas são-no por via dos pormenores divulgados em briefing.
P.S. Outro problema, igualmente grave, é constatar-se que a candidatura da Baixa à UNESCO, como a Profª Raquel Henriques da Silva afirmou, «jaz morta e a arrefecer rapidamente». Também, vendo bem, depois das alterações que foram sendo permitidas nos últimos meses, e sem continuar a haver vontade para um verdadeiro plano financeiro, a coisa nem fazia já sentido. Alumínio, podes fazer o teu trabalhinho!
Monday, April 27, 2009
Há um jardim de oliveiras que anda às voltas pelo Terreiro do Paço
«A Parece que a ideia agradou a muitos dos que passam pela mais nobre e imponente praça de Lisboa, em devaneio turístico, ou na correria para o emprego. Talvez por isso, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, foi ontem ver como as oliveiras se movimentam pelo Terreiro do Paço. São assim os 45 "jardins portáteis", idealizados por Leonel Moura, que a autarquia adquiriu por 70 mil euros. Mexem-se à força dos pés de quem se senta na estrutura plástica que sustenta a pequena árvore. Talvez também por isso o autarca já pense em deslocá-las, depois das comemorações do 25 de Abril, para a Praça da Figueira, onde darão o colorido de que o local tanto carece. E Costa lançou novo desafio, convidando outros artistas plásticos a apresentarem projectos para a cidade. A praça encheu-se de gente e, não fosse o vento que a fustigava e a poeira das obras que brindava os visitantes, muitos mais por ali tinham ficado. O artista plástico explicou então que o seu "jardim portátil" permite aos cidadãos, pelo seu movimento, participar na vida da cidade. Sobre a árvore escolhida, destacou que dá sombra a quem nela se acolhe e que está fortemente enraizada à cultura portuguesa e à cidade de Lisboa.»
...
Att. Sr. Presidente da CML
Atenção! Pelo facto da Praça da Figueira ser agora uma espécie de 'aterro sanitário' de tudo quanto a CML quer impingir-nos e acha pimba, por favor, nada de enxotar para lá mais monos.
A Praça da Figueira merece tanto respeito quanto o Rossio, os Restauradores ou o Terreiro do Paço.
Tinha até um belo projecto de requalificação no seguimento do do Rossio (e só projectos de requalificação que entendam a cidade como um espaço continuado é que são dignos de referência), mas que uma 'cunha' fez parar em prol de um outro de revestimento das fachadas da praça com azulejos, no que seria o projecto mais piroso de toda a Lisboa. Ainda bem que isso não foi avante.
Mas não descansaram enquanto não descentraram a estátua de D.João I, subiram a cota do pedestal, puseram aquela iluminação pindérica, mais as tendinhas e lá veio Santana que colocou corrimões nos poços de ventilação (mais outro dos clássicos lisboetas) da placa central. Ah!, é verdade, as árvores-palitos da praxe, dispostas bem longe das fachadas.
Mais bugigangas agora? Poupe-nos, por favor.
Friday, April 24, 2009
Terreiro do Paço ganho pela CB Richard Ellis e Innovagency
«O desenho da solução de urbanismo comercial para a Praça do Comércio, em Lisboa, será feito pela consultora imobiliária CB Richard Ellis e pela Innovagency.
Este projecto promovido pela Frente Tejo procura concretizar uma visão ambiciosa para o futuro do Terreiro do Paço.
O consórcio CB Richard Ellis/Innovagency ganhou o concurso promovido, pela sociedade Frente Tejo, para desenhar a solução de urbanismo comercial para a Praça do Comércio (Terreiro do Paço), em Lisboa.
Este projecto tem como objectivo devolver uma dinâmica a uma das maiores Praças da Europa, através de movimento comercial, cultural e turístico, dentro dos melhores e mais avançados parâmetros de qualidade urbanística e comercial a nível mundial
Este projecto promovido pela Frente Tejo procura concretizar uma visão ambiciosa para o futuro do Terreiro do Paço, desenhando e implementando um conceito inovador e contemporâneo, com relevância temporal contínua, assente na multifuncionalidade dos espaços. O Projecto enquadra duas vertentes fundamentais: a de desenho da estratégia comercial e a de definição do modelo de gestão e exploração da oferta e do espaço urbano sob um conceito e uma marca integradores.
A área de intervenção do projecto integra o piso térreo dos edifícios que constituem o conjunto monumental do Terreiro do Paço, incluindo os torreões Nascente e Poente, num total de 18 mil m2 de área coberta, bem como o espaço público do Terreiro do Paço, nomeadamente a praça e os claustros interiores dos edifícios.
A CB Richard Ellis e a Innovagency associaram-se para a realização deste trabalho por acreditarem que a complementaridade das suas competências e experiências permitiriam abordar o desafio de uma forma inovadora e integrada. À especialização da CB Richard Ellis no sector imobiliário (em particular uma vasta experiência imobiliária acumulada na análise, definição, comercialização e gestão de projectos no sector comercial) juntam-se as competências de inovação e de marketing estratégico da Return on Ideas (a marca de consultoria da Innovagency). Este consórcio ambiciona desenhar para o Terreiro do Paço um conceito com soluções inovadoras e adequadas aos diferentes públicos alvo que se pretende atingir.
A CB Richard Ellis desenvolve a sua actividade para promotores, investidores e ocupantes através de mais de 300 escritórios em todo o mundo (excluindo empresas associadas). Entre os seus serviços contam-se a consultoria e mediação em operações de venda e arrendamento de imóveis, administração de imóveis, gestão de projectos, consultoria de investimento imobiliário, serviços de avaliação, research e consultoria. Em Portugal a empresa está presente desde 1988, prestando serviços em todo o território nacional, tendo reforçado a sua posição a Norte do país desde 2006.
A Innovagency concentra a sua capacidade para abordar projectos de assessoria estratégica e de marketing sob a marca de consultoria "Return on Ideas". Esta equipa está especialmente vocacionada para apoiar os clientes na identificação, aceleração e implementação de oportunidades de crescimento dos negócios, com metodologias orientadas para o consumidor. Com oito anos de experiência no mercado português, tem colaborado com as principais empresas nacionais e tem tido sucesso em sectores tão variados que vão do sector imobiliário ao sector financeiro, do sector energético ao sector dos bens de consumo e do retalho. Em todos eles, a Return on Ideas apresenta sempre soluções inovadoras que permitem um rápido incremento dos proveitos das organizações, seja por: aumento puro e simples do número de clientes; criação de novas plataformas de crescimento do negócio; utilização mais efectiva dos canais à disposição das empresas para chegar aos consumidores; e segmentação racional dos produtos e serviços tendo em conta a base de clientes a que se dirigem»
Thursday, April 23, 2009
Achados arqueológicos descobertos no Terreiro do Paço podem vir a ser divulgados num centro interpretativo
«A criação de um centro interpretativo para os achados arqueológicos descobertos durante as obras do Terreiro do Paço é uma das hipóteses em estudo para divulgar aquele património, disse o vereador do Urbanismo na Câmara de Lisboa, Manuel Salgado.
A hipótese foi avançada numa reunião entre o vereador, o presidente do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), o vice-presidente do instituto para a área da arqueologia e responsáveis da sociedade Frente Tejo, da EPAL e da Simtejo, entidades envolvidas nas obras que decorrem no Terreiro do Paço.
Na reunião foi decidido o levantamento da interrupção da obra devido à descoberta de achados arqueológicos, nomeadamente de uma muralha junto ao Cais do Corpo Santo. "A situação está controlada e nenhum atropelo foi cometido para não comprometer o calendário da obra", garantiu Manuel Salgado, referindo o "valor importante" dos achados.
"Não houve destruição de património. Assim que foram detectados achados foi dado conhecimento ao Igespar, que accionou as medidas preventivas", afirmou o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, durante a reunião da Assembleia Municipal que se realizou anteontem.
Diferente é a versão do responsável pela arqueologia náutica e subaquática do Igespar, Francisco Alves, que revelou ao PÚBLICO, em declarações anteriores, que houve um avanço das máquinas sobre os vestígios, previamente registados por desenho e fotografia, "sem autorização da tutela". Também o presidente do instituto, Elísio Summavielle, admitiu uma "precipitação" do empreiteiro.
A Assembleia Municipal aprovou uma moção do PSD condenando "veementemente" as "situações ocorridas" e exigindo do presidente da câmara "garantias sólidas" de que é capaz de "defender e salvaguardar o património histórico e arqueológico".
Numa recomendação apresentada pelo PSD, os deputados exigiram que o contrato local de segurança, que está a ser negociado com o Ministério da Administração Interna e que se prevê que abranja apenas a zona da primeira divisão da PSP, seja "aplicável a toda a cidade de Lisboa". Também António Costa revelou defender esse alargamento, frisando que "não há uma negociação fechada".
Também por iniciativa do PSD, a Assembleia aprovou uma moção repudiando "qualquer tentativa" da autarquia de propor alterações ao PDM para "acomodar interesses imobiliários do Governo".
Já ontem, na reunião do executivo camarário, Marcos Perestrello, vice-presidente da câmara, renunciou ao mandato autárquico na capital, considerando não ter condições para o exercer em simultâneo com a pré-campanha eleitoral em Oeiras, onde será cabeça de lista. PÚBLICO/Lusa»
E começou a jogatina partidária.
Wednesday, April 22, 2009
Monday, April 20, 2009
CONVERSAS COM LISBOA: ciclo de palestras nos Paços do Concelho
A cidade, a sua história, a vida quotidiana, a arte e a arquitectura, as pessoas com as suas histórias e as suas memórias, vão ser temas destas primeirasa "Conversas com Lisboa". Através das palavras dos oradores convidados para este ciclo vamos tarzer à conversa diferentes olhares sobre Lisboa e debatê-los com todos os que quiserem partilhar um pouco dessas memórias, com um olhar posto no futuro da nossa Cidade.
Um centro comercial para o Rossio
«A Câmara de Lisboa aprovou há poucos dias um projecto de arquitectura que vai transformar o quarteirão onde se encontra a Pastelaria Suíça, no Rossio, num hotel de cinco estrelas.
Parece-me que esta não é a melhor foram de reabilitar e revitalizar a Baixa, porque uma unidade hoteleira daquela classe irá certamente funcionar, e não é difícil de prever, como um "clube de ricos", com porteiro à porta, no centro da cidade, isolado do resto da população. Se pensarmos que em vez do Centro Comercial Armazéns do Chiado se tivesse instalado um hotel de cinco estrelas naquele local, hoje provavelmente aquela zona da cidade teria uma menor circulação de pessoas, sobretudo à noite.
Os centros comerciais são hoje em dia espaços de convívio, por excelência, nos quais as pessoas se podem sentar às mesas para conversar, sem haver consumo obrigatório, o que agrada a quem tem poucas posses, e onde se pode tomar um copo ou uma refeição, fazer compras, ir ao cinema, estudar, namorar ou, muito simplesmente, comprar o jornal. Poderá parecer de mau gosto, principalmente a puristas e elitistas, a minha escolha para recuperar e dar nova vida à Baixa: O quarteirão em causa deveria ser transformado num centro comercial que tivesse um excelente projecto em que fossem mantidas as abóbadas do piso térreo, como no do que o vereador Manuel Salgado referiu aos jornalistas. Sim, um centro comercial que tivesse um excelente projecto, com abóbadas e esplanadas.
Mário Júlio,
Lisboa»
Uma boa ideia, só que redundante: o Rossio já é um centro comercial.
Sunday, April 19, 2009
Igespar sai em defesa de achados no Terreiro do Paço
Ana Henriques
«Pressa em terminar obras em curso pode comprometer descobertas arqueológicas importantes. Antiga escadaria vai ficar à vista
Era uma manhã desagradável para passear à beira-rio. O céu cinzento e o ar húmido teriam de bom grado levado o director do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) a optar pelo conforto do seu gabinete no Palácio da Ajuda. Mas, perante o que se havia passado escassas 12 horas antes no Terreiro do Paço, Elísio Summavielle não teve outra escolha senão descer até à margem do Tejo acompanhado por arqueólogos, para perceber até que ponto a pressa do empreiteiro que está a fazer as obras de saneamento não tinha danificado irreversivelmente vestígios ali encontrados esta semana.
"Suspirámos de alívio", descreve o responsável pela arqueologia náutica e subaquática do instituto, Francisco Alves. "Apesar de terem avançado com as máquinas sobre os vestígios sem autorização da tutela, estes já haviam sido registados [por desenho e fotografia] pelos arqueólogos que acompanham a obra". Além disso, continuava de pé uma escadaria em pedra, velha de vários séculos, que apareceu defronte do torreão poente da Praça do Comércio. Um poderoso anel metálico cravado a meio dos degraus atesta uma das suas funções - a amarração de barcos.
A escadaria estava enterrada e ninguém sabia da sua existência até as obras em curso a resgatarem ao passado. Irá agora ser desmontada para abrir caminho à passagem da conduta do esgoto, mas mais tarde ficará à vista de toda a gente, já que será remontada no lugar onde apareceu. À primeira vista parece fazer parte da amurada do Cais das Colunas. Os arqueólogos garantem que não, que poderá ser da época dos Descobrimentos.
Vandalismo ou não?
Quanto aos achados destruídos pelo empreiteiro sem autorização do Igespar - restos de um cais de pedra prolongado por pontões de madeira assentes em estacaria -, o especialista em arqueologia náutica e subaquática fala da sua raridade, embora admita que a sua preservação seria impossível, uma vez que inviabilizaria a obra em curso. "Se estivesse numa conversa de café, diria que aquilo que se passou foi vandalismo", observa.
Depois de verem afluir ao local de cada vez mais arqueólogos entusiasmados, com máquinas fotográficas, os operários agiram: na quinta-feira cerca das 21h00 arrasaram tudo, ainda sem terem licença do Igespar para o fazer. Contido nas palavras, Elísio Summavielle fala em "precipitação" do empreiteiro. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar a empresa em causa, a Teixeira Duarte.
"Antes de haver autorização do instituto, não pode haver desmontagem e já chamei a atenção para esse facto, Felizmente não houve danos para o património", refere o mesmo responsável. Os arqueólogos chamam desmontagem à destruição de um vestígio quando ela é precedida do seu registo fotográfico ou desenhado. Summavielle e a sua equipa estiveram com o dono da obra, a empresa intermunicipal Simtejo, para que episódios como este, puníveis por lei, não se repitam. Para terça-feira está agendada uma reunião entre responsáveis da autarquia, do Igespar e das empresas envolvidas nas obras em curso na zona. Em cima da mesa estarão não só as questões relacionadas com a arqueologia como as dos prazos: o presidente da câmara, António Costa, prometeu que os transtornos que os trabalhos estão a criar aos automobilistas durariam quatro meses, mas a necessidade de alterar alguns projectos para preservar os vestígios arqueológicos pode fazer com que as obras se prolonguem para lá de Junho. "Por vezes a pressa é inimiga do património", constata Elísio Summavielle.
Um dos projectos que será preciso alterar será o da EPAL. A empresa aproveitou as obras de saneamento para substituir um troço de 640 metros de uma conduta de água entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus. Acontece que também aqui os arqueólogos depararam com vestígios que, embora menos espectaculares do que a escadaria, entendem ser igualmente de preservar. Trata-se de um antigo muro de contenção da margem do rio, que se prolonga por cerca de 20 metros. Irá permanecer enterrado, tendo o Igespar dito à EPAL que desviasse a conduta pelo menos 20 centímetros do vestígio arqueológico.
No caminho da conduta
A empresa não comenta: depois de ter passado vários dias a garantir que tinha licença do instituto para destruir o muro, remete agora qualquer declaração para depois da reunião na câmara. Ainda na zona da Ribeira das Naus foi encontrado uma segunda estrutura de pedra, perpendicular ao rio e provavelmente da época anterior ao terramoto de 1755. O Igespar admite que possa vir a ter de ser atravessada pela conduta da água.
Muita da excitação dos arqueólogos com tudo o que estão a descobrir enterrado à beira-rio tem que ver com o facto de várias destas estruturas portuárias estarem representadas em antigos mapas e gravuras da cidade de Lisboa. Seriam imagens fiéis da metrópole portuária do século XVII? Ninguém sabia. Até hoje. O director do Igespar apela à Câmara de Lisboa para que, terminadas as escavações, sejam divulgadas as descobertas feitas, "para que tudo o que está ali debaixo não fique nas gavetas dos peritos".
100 mil habitantes de Lisboa ainda vêem os seus esgotos encaminhados para o Tejo. As obras em curso vão mudar isso»
Era bom, também, que o Presidente do IGESPAR se preocupasse com a saloiada pegada que é o projecto da Parque Expo para o Terreiro do Paço, atentatório que é da monumentalidade única do mesmo, e, mais, que envolve a construção de uma "anexo" lacustre junto ao torreão poente, para emissão de esgotos. Coisa perfeitamente dispensável, segundo opinião de técnicos especializados, dado que a obra a decorrer em pleno terreiro pode, e deve, englobar essa vertente técnica, sem necessidade de construção da tal palataforma lacustre.
Saturday, April 18, 2009
CML: «Programa de Investimento Prioritário em Acções de Reabilitação»
Friday, April 17, 2009
EPAL terá que preservar antiga muralha da Ribeira das Naus
Ana Henriques
«Vestígios do século XVII obrigam EPAL a alterar traçado de conduta de água, o que poderá comprometer prazo de obra, que devia terminar em Junho
A descoberta de uma antiga muralha do século XVII nas obras que decorrem entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré, em Lisboa, poderá comprometer o prazo anunciado para o fim dos trabalhos, em Junho.
O paredão inclinado de contenção da margem do rio é semelhante ao que hoje existe ainda na zona ribeirinha. Acontece que se encontrava enterrado no subsolo. Quando depararam com ele, os arqueólogos que acompanhavam a obra de substituição da conduta de água da EPAL entre o Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus consultaram gravuras da época e chegaram à conclusão que estavam mesmo perante uma das muralhas que nelas aparecia representada.
A EPAL é que não ficou satisfeita com a perspectiva de ter de alterar o projecto da conduta e com os atrasos a isso inerentes. No início da semana, a porta-voz da empresa ainda disse ao PÚBLICO que a obra ia prosseguir normalmente, já que a EPAL havia sido autorizada pelo Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) a desmontar a estrutura, que se prolonga paralelamente à margem por pelo menos 20 metros. Uma expressão que, por vezes, mais não é do que um eufemismo para designar o que pura e simplesmente é a destruição dos achados arqueológicos, depois de desenhados e fotografados. Mas afinal, e apesar da argumentação da empresa junto do Igespar sobre as dificuldades de alterar o traçado da conduta, a decisão do instituto que tem como dever a protecção do património vai no sentido de a EPAL fazer todos os esforços para preservar o paredão.
O Igespar invoca a monumentalidade da muralha para exigir a sua preservação. Como o prazo das obras é um assunto considerado sensível, por causa dos transtornos que os trabalhos estão a criar na circulação rodoviária, por via do encerramento da Avenida da Ribeira das Naus, o assunto irá ser discutido na semana que vem entre as várias entidades envolvidas - Câmara de Lisboa, Igespar e EPAL.
Desde que o paredão de contenção de terras foi encontrado, no final do mês passado, que o ritmo dos trabalhos da EPAL tem vindo a abrandar. "Há locais onde é possível ir avançando, embora a um ritmo diferente do habitual. A obra não tem estado completamente parada", garante a mesma porta-voz da empresa, Conceição Martins, segundo a qual ainda não era ontem conhecido na EPAL o teor da decisão do Igespar. Ainda assim, por enquanto "a obra está a evoluir dentro do prazo que estava previsto".
A substituição deste troço de 640 metros de conduta de distribuição de água é apenas uma das quatro empreitadas que estão a decorrer simultaneamente entre o Terreiro do Paço e o Cais do Sodré. A construção de duas caixas de intercepção de esgotos, para impedir que os esgotos de parte da cidade continuem a poluir o rio, e a consolidação do torreão poente do Terreiro do Paço são outras das obras em curso, tendo esta última empreitada já acabado. A Câmara de Lisboa também aproveitou a ocasião para fazer um colector pluvial.
Numa visita à obra no fim de Março, o presidente da câmara garantiu que tudo ficaria pronto dentro do prazo. Na altura já era conhecida a existência da muralha, que pode inviabilizar um estacionamento subterrâneo que a autarquia ali quer fazer. Além do paredão, foram encontrados no local outros vestígios arqueológicos da mesma época.
Paralelo ao rio, o paredão de contenção da margem prolongava-se pelo menos até ao Cais do Sodré, atravessando a zona onde hoje estão as agências europeias. Só que a construção das agências não foi acompanhada por arqueólogos. Quando o Igespar percebeu o que se tinha passado era tarde de mais e já tinham sido demolidos troços da antiga muralha.»
Lisboa no seu melhor. Preparem-se, que vem mais aí!
Thursday, April 16, 2009
SEMINÁRIO: Carta Estratégica de Lisboa 2010-2024
Um compromisso para o futuro da cidade
O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa convida Vª Exª para participar no 1º Seminário da Carta Estratégica de Lisboa, que vai realizar-se no dia 18 de Abril, pelas 10h, no CCB - Sala Almada Negreiros.
O objectivo do seminário é debater e dar respostas às duas primeiras questões estratégicas que se colocam à nossa cidade:
- Como recuperar, rejuvenescer e equilibrar socialmente a população de Lisboa?
- Como tornar Lisboa uma cidade amigável, segura e inclusiva, para todos?
Todos os contributos são importantes. O futuro de Lisboa também está nas suas mãos.
Lisboa, 15 de Abril de 2009.
António Costa
Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Monday, April 13, 2009
Urgente. Especialista precisa-se para Lisboa!
António Sérgio Rosa de Carvalho
«A Este título constitui um encore. Com efeito, num artigo escrito há nove anos usei quase o mesmo título, só que em vez de especialista utilizava, então, dermatologista.
Nele descrevia o estado das fachadas e coberturas pombalinas que, como que sofrendo de uma grave doença de pele, se encontravam cobertas de caixotes de ar condicionado e caixas técnicas, invadidas por cabos pendurados caoticamente como lianas, suportando discos e antenas. Como clímax deste atentado, apontava os telhados do Rossio vistos do lado da Praça da Figueira, qual visão surrealista da Praça Nobre de Lisboa, juncados de sucata. Passados nove anos, depois de vários autarcas e de inúmeros estudos, levantamentos, intenções e promessas, nada foi conseguido e esta decadência só se agravou.
Prosseguindo na metáfora do dermatologista, mas alargando o diagnóstico ao todo mais vasto de que padece o "corpo" pombalino ... poderemos perguntar ... onde está o "especialista" capaz de dar conta deste desafio?
Associada a esta decadência física do edificado, está o desprestígio perante aqueles que nos visitam, o declínio de qualidade nas experiências e vivências sociais e humanas, provocadas por um assédio permanente de vendedores, músicos ambulantes, pedintes e outras actividades obscuras, exercidas por "tribos" organizadas e com "territórios" estabelecidos. A imagem que poderá ficar de tudo isto, é a de um povo incapaz de assumir com consciência o seu legado, impotente na sua preservação, indolente na sua vivência, habitando uma cidade desertificada, tratada como "terra de ninguém". Algo entre os clichés caricaturados, como o "Pereira de Oliveira" do Tintim e o "Manuel" de Fawlty Towers.
Agora que se debate a questão da prioridade e da validade das "grandes obras públicas" em momento de grande crise, será possível encontrar desígnio e missão mais urgente do que a recuperação patrimonial e o repovoamento da Baixa pombalina?
Aqui temos um verdadeiro desígnio nacional! Só que, meditando no exemplo também de desígnio que constituiu a Expo, que usufruiu de equipa e gestão com independência, para garantir a continuidade do rigor de planeamento e execução, terei que concluir que tão importante projecto não poderá ficar dependente das vicissitudes e subjectividades dos ciclos políticos. Assim, parece-me como única solução para este desafio, a nomeação directamente pelo sr. Presidente da República de um comissário que, pelo seu prestígio e independência inquestionáveis, ficará garante perante o país e a cidade da execução deste projecto de longa duração.
O presidente de câmara eleito teria que prestar contas no final do seu mandato perante o Presidente da República e os habitantes da cidade de Lisboa, através do seu comissário, do seu trabalho e progressos conseguidos neste desígnio nacional. Perante casos como a intenção de demolir o último palacete da Av. Duque de Loulé (nº 35), a inoperância e a misteriosa irracionalidade da "máquina" camarária atingiram um absurdo tal que, com relação ao último reduto patrimonial do centro histórico de Lisboa, a Baixa pombalina, que, embora decadente, mantém a sua unidade, algo de excepcional se exige de acordo com a urgência, gravidade e a importância da tarefa. Talvez, precisamente neste momento de profunda crise económica e institucional, tenha chegado o momento de nos libertarmos desta "bipolar idade" colectiva, que nos faz oscilar entre a euforia e o desânimo, exorcizando o nosso culto da fatalidade, através do reencontro com uma capacidade de realização agora num tema culturalmente diferente, já demonstrada quando do desígnio da Expo.
Historiador de Arquitectura»
Sunday, April 12, 2009
O «APROVADO» que nada melhora?
Foto: Rua Augusta. O que é que foi aprovado? o abandono e a má gestão de décadas do património arquitectónico? as caixas de ar-condicionado? o destacamento de azulejos de fachada? uma demolição integral? um hotel? habitação? 5 caves para garagens?
Thursday, April 9, 2009
Aprovada transformação de quarteirão da pastelaria Suíça em hotel
In Lusa
«A Câmara de Lisboa aprovou hoje o projecto de arquitectura que vai transformar o quarteirão da pastelaria Suiça, na Rossio, num hotel de cinco estrelas.
O presidente da Câmara, António Costa (PS), considerou que o projecto irá dar
um "grande contributo à reabilitação e revitalização da zona central da
cidade". O quarteirão encontrava-se "há muito abandonado", sobretudo ao nível dos
pisos superiores, referiu.
O projecto foi sujeito a parecer do Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), acrescentou o vereador do Urbanismo,
Manuel Salgado.
O movimento Cidadãos por Lisboa votou contra o projecto, porque prevê o acesso
a estacionamento pelo Rossio e pela Praça da Figueira, bem como locais para
tomada a largada de passageiros, em ambos os locais, justicou a vereadora
Helena Roseta. Helena Roseta criticou ainda que a transformação do quarteirão em hotel não leve em conta a preservação da antiga "manteigaria União", uma "jóia" de
valor patrimonial.
O vereador comunista Ruben de Carvalho destacou a degradação em que os edifícios se encontram, considerando que a criação de um hotel assegura movimento na zona e mantém algum do comércio existente.
Como o hotel terá duas frentes - uma para Rossio e outra para a Praça da Figueira - Ruben de Carvalho questionou apenas a inexistência de uma "saída de serviço" da unidade hoteleira.»
Fotos: FJ
...
Há que dizê-lo: este projecto melhorou bastante em relação ao projecto anterior. Mas ainda mantém algumas coisas más, sendo que para mim as piores são mesmo o que farão em relação às mansardas de Mardel (removê-las por soluções 'contemporâneas'? recuperá-las com a mesmíssima traça e com telha igual?) e com a fachada, mobiliário e pinturas da antiga Manteigaria Martins & Rebelo, na Rua do Amparo.
O que é hoje uma papelaria foi até há 30 anos uma das antigas manteigarias mais bonitas da Lisboa. Em qualquer cidade gerida por pessoas com bom gosto, e com empresários hoteleiros e restauração com bom gosto, o que resta da manteigaria (não só a belíssima fachada que dá para a Rua do Amparo e para a Praça da Figueira, mas sobretudo os interiores, feitos de mobiliário de época em estado perfeito e tectos pintados) seria preservada e incorporada como mais-valia, que de facto é, para o futuro hotel, ou como sala de época no âmbito da ampliação que se prevê da Pastelaria Suíça (cujo recente 'new look' alterou radicalmente a sua imagem interior, mas que teima em levar uns preços tão altos que só mesmo turistas incautos é que os suportam, face à qualidade do serviço, mas enfim, isso são outras histórias).
Mas não. A CML não só ignora o valor desta antiga manteigaria, nem sequer a incluindo no Inventário Municipal (porquê?), como apenas aconselha o promotor a manter o mobiliário e a decoração em vez de EXIGIR. Mais, adianta mesmo que se for desmantelada, porderá ir para o Museu da Cidade (está na moda, agora, esse procedimento).
Está pois na mão do promotor, o futuro deste património. Mais uma vez, tal como com o último dos correeiros e muitas outras lojas históricas, a CML é cega e permissiva.
Em qualquer cidade italiana ou francesa, é comum ver-se espaços como este adaptados a salões de chá, chocolaterias, etc., que fazem parte de um roteiro de verdadeiro 'charme'. Em Lisboa, escasseiam. E não acredito que este promotor saiba o que tem em mãos. Se a CML abdica do seu papel, e se o IGESPAR, objectivamente, já era, que nos restará fazer?
Friday, April 3, 2009
Comerciantes querem dinamizar o Chiado
A Associação de Valorização do Chiado quer dinamizar a vida do bairro depois das 19 horas, altura em que o comércio costuma fechar.
Alguns comerciantes já alargam os horários. Esta sexta-feira começou a "Acção de Primavera".
"Quando o comércio tradicional fecha, há um adormecimento e temos tentado incentivar os comerciantes a alargarem os seus horários", disse ao JN Vítor Pereira da Silva, o presidente da Associação de Valorização do Chiado.
A entidade, que luta pela defesa dos interesses dos empresários e moradores daquele bairro, apresentou, ontem ao final da tarde, a acção "Chiado After Work". Trata-se da primeira de várias iniciativas que visa cativar mais pessoas ao Chiado ao final do dia e dar a conhecer novos espaços de restauração. "Estou bastante optimista porque já no Natal conseguimos dinamizar esta zona, apontou o responsável.
"Aqui no Chiado temos óptimas condições, esplanadas fantásticas que foram abrindo em escadinhas, praças ou hotéis e temos espaços interiores modernos com gente dinâmica que sabe decorar", prosseguiu Vítor Pereira da Silva, sublinhando que é fundamental que se criem condições para a confraternização entre as pessoas para que o próprio comércio seja beneficiado.
Perto de 40 lojas já aderiram ao alargamento de horário até pelo menos às 20 horas, uma mais que o habitual. Para além disso, o presidente da Associação saúda o facto de "vinte e tal espaços espaços de restauração terem combinado uma oferta concertada entre as 18 e as 21 horas para tentar criar uma retenção de pessoas e um convívio generalizado como acontece em Inglaterra ou em outros países onde as pessoas têm por hábito relaxar e confraternizarem ao final da tarde". As iniciativas dos bares e restaurantes passam por um vasto programa de ementas e preços especiais, bem como animações culturais. Na óptica de Vítor Pereira da Silva, o número de espaços que aderiram à iniciativa é "bastante significativo".
Para já, a iniciativa dura apenas até 6 de Maio, mas o presidente da Associação fez saber que "provavelmente em 2010 já iremos conseguir que estas acções se estendam todo o ano".
"Temos de mostrar que estamos abertos, que estamos vivos", salientou, destacando a grande vantagem da zona em relação às grande superfícies: "Os centros comerciais precisam de simular a cidade, mas nós não precisamos: temos o património, os edifícios, as calçadas, as igrejas e o ar livre".
"O nosso objectivo é muito claro: queremos que o Chiado se torne num bairro modelo", rematou.
In JN