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Sunday, November 27, 2016

O Turismo pode trazer problemas, mas Lisboa e Porto não o reconhecem...

















O Turismo pode trazer problemas, mas Lisboa e Porto não o reconhecem
 
in Público, 26 de Novembro de 2016
 
Autarcas criticados por pouco ou nada fazerem para impedir a descaracterização das cidades num debate sobre património organizado pelo Icomos, no Porto. (...)
 
O arquitecto Pedro Bismark, outro dos convidados para esta sessão, elencou na sua intervenção “treze tristes teses sobre o turismo”, sendo uma delas a de que o turismo, na sua voracidade, destrói aquilo de que se alimenta, seja ela a autencidade social, arquitectónica ou outra, de um lugar. Num artigo de opinião no PÚBLICO, A coordenadora deste encontro, Maria Ramalho, já tinha alertado que, depois de ter destruído frentes de mar por esse país fora, o ímpeto turístico - que não dissocia do imobiliário - está a atingir o coração das cidades, principalmente das mais antigas e acessiveis por meios de deslocação low-cost, a uma velocidade “estonteante”. Ao contrário de Veneza ou Barcelona, onde os problemas se foram agudizando ao longo de anos e anos, estamos numa fase em que tudo acontece mais rapidamente, insistiu.
 
O arquitecto Pedro Bismark, outro dos convidados para esta sessão, elencou na sua intervenção “treze tristes teses sobre o turismo”, sendo uma delas a de que o turismo, na sua voracidade, destrói aquilo de que se alimenta, seja ela a autencidade social, arquitectónica ou outra, de um lugar. Num artigo de opinião no PÚBLICO, A coordenadora deste encontro, Maria Ramalho, já tinha alertado que, depois de ter destruído frentes de mar por esse país fora, o ímpeto turístico - que não dissocia do imobiliário - está a atingir o coração das cidades, principalmente das mais antigas e acessiveis por meios de deslocação low-cost, a uma velocidade “estonteante”. Ao contrário de Veneza ou Barcelona, onde os problemas se foram agudizando ao longo de anos e anos, estamos numa fase em que tudo acontece mais rapidamente, insistiu.
 
O sociólogo João Queiroz aludiu às dificuldades que se colocam a quem, como ele, pretenda investigar os impactos do turismo num dado território. Dificuldades que se prendem com o défice de financiamento do sistema científico mas também, vincou, com a inexistência de dados estatísticos acualizados, que permitam uma leitura atempada de alguns indicadores. O Censos 2011 já lá vai há cinco anos, mas, avisou, 2021 pode ser tarde demais para reverter alguns efeitos, como o afastamento de populações de menores recursos económicos dos centros históricos, situação já reportada em Setembro em Alfama, Lisboa, pelo presidente da Junta de Santa Maria Maior. (...)
 
“O problema é que, como o PIB cresce por causa do turismo, não se pode criticar isto, sem se ser olhado de lado”, atirou Maria Ramalho, insistindo que no país, e principalmente nas duas cidades mais sujeitas a esta pressão, a crítica deve transformar-se num movimento, sob pena de ser inconsequente. Na plateia, entre as mais de duas dezenas de pessoas que assistiram ao debate, somaram-se os apelos à actuação reguladora do poder político. 
 
Um dos presentes, o arquitecto Pedro Figueiredo, argumentou que o problema se resolve com políticas urbanas que passam por deixar de usar fundos públicos e comunitários para apoiar novos hóteis que surgem a partir de “uma reabilitação de fachada, que deixa carapaças e faz demolição do interior de quarteirões inteiros”, desviando esse dinheiro para habitação a custos controlados. Por outro lado, acrescentou, é possível dialogar com as plataformas de alojamento e, tal como está a ser testado em Nova Iorque, exigir que só seja possível alocar para o airbnb um apartamento por pessoa. E, do ponto de vista do licenciamento, introduzir aspectos de natureza social nos regulamanentos, para controlar o movimento de transformação de casas que serviriam para famílias em T0 que apenas têm em vista o arrendamento a turistas.
 
O artigo completo aqui:

https://www.publico.pt/2016/11/26/local/noticia/para-travar-a-turistificacao-lisboa-e-porto-tem-de-reconhecer-o-problema-1752685

Tuesday, September 22, 2015

«CML abdicou da sua responsabilidade planeadora e reguladora»

Bye, bye Lisboa!

A Câmara de Lisboa abdicou da sua responsabilidade planeadora e reguladora, abrindo a caixa de pandora.
Em 1990 Barcelona com 1,5 milhões de habitantes atraiu 1,7 milhões de Turistas. Em 2014 Barcelona recebeu 7,5 milhões de Turistas. Rendimento anual através do Turismo atingiu os 12 mil milhões de euros.
Nas Ramblas, em cada 10 transeuntes, 9 são turistas. 1991: 23,7191991 dormidas; 2003: 37,224 dormidas; 2013: 69,128 dormidas.
Assistiu-se assim, à tranformação de toda a cidade num Parque Temático Turístico e à redução de todas as actividades a uma única, omnipresente e obsessiva Monocultura. O Turismo.
Todo e qualquer sentido do Viver e Habitar quotidiano foi dominado e reduzido à erosão permanente do visitar, do residir temporário, do permanente happening nocturno e da festa contínua.
Ao permitir este consumir de forma erosiva, predadora e esgotante, de todas as características que, precisamente, constituíram o atractivo e o motivo da vinda e, originalmente, o apelo de vísita, Barcelona cada vez mais, e paradoxalmente, foi transformada num local onde Turistas apenas encontram outros Turistas. Uma plataforma globalizada, esvaziada dos seus conteúdos, dos seus moradores e autenticidade original.
Tudo isto levou a uma crescente revolta local, com movimentos cívicos e crescentes manifestações de rua, culminando este processo com a eleição de Ada Colau para presidir o Município.
A primeira medida de Colau foi instalar uma moratória durante 1 ano, de todo o licenciamento para novos projectos turísticos, incluindo hóteis, hostels, reconversões para alojamentos temporários, etc.
Levou também à produção do já famoso Documentário “Bye Bye Barcelona”, no qual, todas estas situações e desafios são ilustrados.
Entretanto, Colau entrou em confronto directo com a airbnb e a Booking.com, exigindo destas organizações especialistas em estadias temporárias, a relação completa das moradas e registos de ofertas dos seus sites.
A todos os endereços ilegais serão impostas multas de 15.000 a 90.000 euros, oferecendo Colau como alternativa ao pagamento das multas pelos proprietários destes alojamentos, a disponibilização pelos mesmos, destas moradas durante três anos, como habitaçào social, para os residentes locais.
A recusa das organizações referidas de disponibilizar as informações exigidas, poderá levar à proibição de acesso a estes sites especializados em oferta de alojamentos temporários, em todo o território da Catalunha.
Alfama recebeu recentemente, a visita do Secretário de Estado do Turismo e do Ministro da Economia, que triunfalmente e com um distanciamento “blasé” em relação a um possível papel regulador, equilibrador, planeador, recusaram qualquer reflexão ou dúvida quanto ao crescimento avassalador da oferta e transformação de todas as residências, em alojamentos temporários, sem qualquer tipo de regulamento ou limites, dedicados ao Turismo.
Nesta irrealista e irresponsável atitude caracterizada por um “laissez faire, laisser aller” in extremis, até criticaram uma tímida e tardia preocupação, formulada por um dos grandes responsáveis por esta ausência de gestão e planeamento, Manuel Salgado.
Com efeito, Manuel Salgado ao anunciar em 2008 “A Baixa nunca será um bairro residencial” e ao propor exclusivamente um investimento na hotelaria, residências universitárias e alojamentos de curta e média permanência, entregando a dinâmica do investimento únicamente às exigências dos “mercados”, abdicou da sua responsabilidade planeadora e reguladora, abrindo a caixa de pandora.
No início do processo, antes da crise e respectiva transformação, motivada pela mesma crise, da cidade num gigantesco negócio de estadias temporárias, e acima de tudo, do exôdo maciço de toda a juventude Portuguesa, estes, naturalmente os potenciais habitantes de uma Baixa ainda vazia , ainda teria sido possível planear / estabelecer um equilíbrio.
Assim também, a possível inserção da totalidade da Baixa num regulamento de rigor Patrimonial determinado pela Unesco não convinha à liberdade de manobra de intervenção e licenciamento de Manuel Salgado, pois iria impedir a sua política de “fachadismo” e de destruição sistemática dos Interiores Pombalinos pelos “investidores”.
 Agora, dramaticamente é tarde, e provavelmente de forma irreversível Manuel Salgado e os dois ilustres visitantes de Alfama vão acabar perversamente por “ter razão” na sua irresponsável atitude e ausência de visão.
Entretanto, brevemente, em frente a Alfama vai surgir o novo terminal de Cruzeiros, aumentando o “potencial” e alargando, através das respectivas intervenções e arranjos da envolvente incluindo possivelmente a desejada desactivação da estação de Santa Apolónia, a plataforma da Monocultura.
Bye Bye Lisboa!

Thursday, June 23, 2011

FESTAS DE LISBOA: 55 TONELADAS de LIXO!

Imagens de Alfama. Das 55 toneladas de lixo produzidas em pouco mais de 3 noites, quanto corresponderá a estes autocolantes de publicidade das marcas de cerveja? É uma grande irresponsabilidade destas marcas produzirem, e lançarem no espaço público, esta quantidade de dispositivos de publicidade. O custo para o ambiente natural (a pegada ecológica só da produção é enorme) e para o ambiente histórico dos bairros antigos de Lisboa é indiscutível. Mas apesar disso, a EGEAC mantém, ano após ano, uma marca de cerveja com publicidade agressiva como «patrocinador principal» das Festas de Lisboa. Porquê EGEAC? Porquê Dr. António Costa? Lisboa merece mais respeito. Lisboa não é um campo de batalha para a publicidade!

Wednesday, June 22, 2011

FESTAS DE LISBOA: 55 TONELADAS de LIXO!

A outra Marcha depois da festa!


Os serviços de limpeza da Câmara de Lisboa removeram cerca de 55 toneladas de lixo e gastaram 1.300 m3 de água (em parte já reciclada), nas operações de varredura e lavagem dos locais onde decorreram, na noite de Santo António, as Marchas Populares e os Arraiais das Festas da Cidade.Ao longo de toda a madrugada, 350 0peracionais da limpeza, dos quais 290 cantoneiros, desceram a Avenida da Liberdade, subiram ao Castelo e à Mouraria, calcorrearam a Baixa Chiado e o Bairro Alto, o Bairro da Bica e Santa Catarina, o Bairro da Madragoa, a Praça de São Paulo e o Cais do Sodré, numa vasta operação de limpeza levada a efeito nos locais onde, tradicionalmente, se organizam as mais populares festas em honra de Santo António de Lisboa.O pessoal envolvido nesta operação utilizou, entre outro equipamento de apoio, nove varredoras e sete lavadoras mecânicas, para além de quatro veículos de carga movidos a energia eléctrica. in http://www.cm-lisboa.pt/



Nota: Imagens de Alfama. E agora quem é que vai arrancar das fachadas dos prédios dos Bairros Históricos todos os autocolantes de publicidade que ainda restam das marcas de cerveja?

Friday, March 5, 2010

Esta cidade não é só para velhos

In Público (5/3/2010)Por Ana Rita Faria, Carlos Filipe, Inês Boaventura e José António Cerejo (textos), Enric-Vives Rubio (fotos)

«A capital tem muitas faces e em duas décadas viu mudar muitas caras. Uma viagem por quatro bairros históricos, à procura dos novos residentes

Os dois filhos pequenos de Isabel Saldanha, de 31 anos, já nasceram em Alfama. É neste bairro que vive, desde 2005, esta funcionária da Gebalis (empresa gestora dos bairros municipais de Lisboa), numa casa grande, toda remodelada, com vista sobre o rio. Nascida e criada em Paço de Arcos, no meio de vivendas e junto ao mar, Isabel escolheu Alfama porque queria viver numa aldeia dentro de Lisboa. "Não gosto de me sentir sozinha na cidade, fechada num condomínio, sem conhecer ninguém à volta." O marido, engenheiro, preferia uma casa em Campo de Ourique ou na Lapa, mas Isabel queria algo menos sofisticado. Queria "um diamante por lapidar".

No bairro típico do fado e dos santos populares, as gerações de peixeiras, pescadores e estivadores, originárias da Pampilhosa da Serra e de Ovar, já não vivem sozinhos nas vielas e nos becos apertados. Actualmente, entre 25 e 30 por cento dos 5100 habitantes do bairro são novos moradores. Muitos deles são o espelho de um fenómeno a que, na década de 1960, se deu o nome de gentrificação - a substituição de moradores antigos por novos, nem sempre num processo suave, muitas vezes com custos sociais e económicos elevadíssimos. É o contrário da desertificação dos centros, é o repovoamento urbano feito com determinadas gerações de características diferentes - numerosas vezes, uma excelente oportunidade para a especulação imobiliária encher os bolsos, quando as políticas públicas dão rédea solta.

Em Lisboa, aponta o geógrafo João Seixas, autor de diversos estudos sobre a capital, a gentrificação não se resume aos bairros classicamente históricos. Ela alarga-se a outros, mais recentes, como Alvalade, Campo de Ourique, nas Avenidas Novas. O sociólogo Manuel Villaverde Cabralsublinha, por seu lado, que a gentrificação em Lisboa "não é muito significativa, talvez com excepção de Alfama e do Castelo".

Em Alfama, como noutros locais, esta realidade tem protagonistas muito concretos, que encaixam numa espécie de retrato-robô: gente que adiou a idade do casamento e dos filhos, profissionais liberais ou do sector terciário, cujas opções de carreira e de vida familiar são também fortemente ditados pelos estilos de vida. "São jovens solteiros, casais com filhos de classe média-alta, que viviam na periferia e querem morar no centro, muitos deles ligados às artes e à cultura", explica Filipe Pontes, presidente da Junta de Freguesia da Sé que, juntamente com a de S. Miguel e de Santo Estêvão, delimitam o território ocupado por Alfama. Alguns dos recém-chegados ajudam a dar vida ao bairro. Abriram negócios, como ateliers de design, lojas gourmet ou de artesanato. E assim estancaram a sangria de população do bairro.

Segundo o último censo populacional (2001), Alfama tinha 5000 habitantes. Dez anos antes, eram mais de 7700. A população envelhecida foi desaparecendo naturalmente. Outros tiveram de abandonar as suas casas, no início do século, durante os projectos camarários de reabilitação. Nunca mais voltaram.

A especulação imobiliária não tardou e rapidamente os preços aumentaram. A pressão sobre os velhos residentes para "desimpedirem" prédios reabilitados intensificou-se. Os casos mais dramáticos acabaram em suicídio. Entre os novos moradores, também houve quem se decepcionasse com os "falhanços" da recuperação urbana, com o condicionamento do trânsito ou com a falta de equipamentos de lazer e foram-se embora. Mas outros, como Frederico Carvalho, parecem estar para ficar. A morar em Alfama há quase três anos, este director de formação do Instituto de Medicina Tradicional, de 36 anos, ainda se lembra do dia em que foi conhecer uma casa que tinha visto na Internet. "Era um sábado de manhã, cheio de sol, e mal cheguei ao Largo de S. Miguel vi logo a vida matinal, com os putos a correr atrás da bola e as velhotas a contar as novidades da semana." Antes mesmo de ver a casa, já tinha decidido que queria morar ali.

Os amigos estão sempre a pedir-lhe para os avisar quando souber de casas para arrendar. Um deles, Daniel Aboim, um advogado de 31 anos, deixou Odivelas em Janeiro. Foi a tímida vista de rio do seu pequeno apartamento junto à Estação de Santa Apolónia que o conquistou.

(Em perda de) Graça

É no cimo da Rua da Senhora do Monte que se encontra o miradouro homónimo, uma subida fácil, topo da mais alta colina de Lisboa, onde assenta a freguesia da Graça. Um sítio simples, encantador e idílico para a troca de juras de amor - até as mensagens de telemóvel, que não implicam subir a rua, terem semelhante efeito. Rua abaixo, outros hábitos ali se perderam: o cinema Royal deu lugar a um supermercado, num bairro onde abunda o comércio tradicional que, se não prospera, mantém vitalidade.

Cruzada a Rua Virgínia, encontra-se o Bairro Estrella d"Ouro, com nome em azulejos, ao lado do que foi o primeiro condomínio fechado da Graça. Não era tanto para jovens celibatários e bem instalados na vida como se apregoou durante o processo de venda, mas para jovens casais e com posses acima da média. Porém, são tão poucos que não fazem diferença na estruturação social do bairro.

O pior é o resto. António Paulo Quadrado, presidente da junta de freguesia (tem registo de 5900 recenseados), lamenta que a Câmara de Lisboa seja um grande senhorio - em 2007, dos 736 imóveis da freguesia 50 são da autarquia -, pois também deixa cair o seu património. "É um bairro histórico, de facto, mas muito esquecido, porque degradado: 36 edifícios estão em mau ou muito mau estado. Não tem havido acompanhamento na sua reabilitação, ou é tudo muito lento", diz.

Gentrificação é conceito que ainda não ganha terreno por aqui. "Tudo isto tem condicionado a entrada de novos residentes. O bairro é apetecível, há gente das artes que por aqui passa, aluga um pequeno apartamento, em razoáveis condições, mas acaba por sair por dificuldades com o estacionamento. Há gente que vem ver, gosta, adora as vistas, mas depois o trânsito leva-os de volta à origem."Paulo Sequeira, bancário, de 43 anos, entende bem o alcance do conceito, mas logo vai dizendo que não, que ali não tem entrado, ou se vai entrando é com suavidade imperceptível. Vai apreciando mentalmente, um a um, os agregados familiares seus vizinhos, e reforça a sua ideia: "Tirando as comunidades imigrantes - também o autarca da Graça as mencionou - não me parece que haja mais gente jovem, antes pelo contrário. A população está envelhecida."

"Quem não esteja adaptado desde cedo a viver no centro histórico não se mantém por muito tempo. Embora seja muito agradável ter no prédio do lado uma padaria, no outro a seguir uma farmácia, depois um talho, quatro ou cinco cafés, restaurantes, tabacaria, há grandes condicionantes: o estacionamento e a relação preço/qualidade das casas, e isto no caso das novas ou reabilitadas, porque a dimensão e tipificação das mais antigas já está desajustada das necessidades modernas."

António Paulo Quadrado reforça: "As pessoas gostam, mas a Graça é estreita, não estica nem comporta tanta viatura. E o grande senhorio que é a câmara faz as regras, mas depois não as cumpre."

Estratosférico Chiado

Salvador Roque de Pinho viveu fora de Portugal 27 dos seus 41 anos de vida. Quando regressou ao país, já lá vai quase uma década, o Chiado tornou-se a sua casa. Aqui, no bairro que este morador considera ser "talvez a melhor representação daquilo que é a alma alfacinha", Salvador encontrou "uma mistura de tradição e cosmopolitismo" que o converteu num apaixonado por esta zona.

Como Salvador e a sua mulher, têm sido muitos os que nos últimos anos têm escolhido o Chiado para viver. O presidente da Junta de Freguesia dos Mártires, Joaquim Guerra de Sousa, não tem números para ilustrar o fenómeno, mas garante que se tem assistido a um aumento populacional, tanto na sua freguesia como nas vizinhas, "contrariando a ideia que se tem de que esta é uma zona desertificada".

O mesmo diz Salvador Posser de Andrade, que há 15 anos tem uma sociedade de mediação imobiliária na Rua Garrett e que se lembra de frequentar o Chiado quando, ainda miúdo, os pais o levavam à missa. Segundo este empresário de 61 anos, os novos moradores são não só "endinheirados", ou não fosse este "o bairro com o imobiliário mais caro que existe em Lisboa", mas também "bastante instruídos, com sensibilidade pela cultura e um certo cosmopolitismo". "Quem não tem esses ingredientes não compra no Chiado", sustenta, lembrando que quem tem comprado casa no bairro são "de classes altíssimas", com e sem filhos, com profissões liberais, várias delas residentes no estrangeiro que vêem a aquisição como um negócio. "Houve uma viragem de mais de 180 graus", diz o empresário, lembrando que depois do incêndio esta zona ficou "completamente desertificada e sem interesse comercial". "Dado o preço das habitações, quem compra casa aqui conhece o Chiado e gosta efectivamente do bairro, tem um carinho especial por ele", diz por sua vez o presidente da Junta de Freguesia dos Mártires.

Para Salvador Roque de Pinho, que se confessa apreciador dos bairros históricos de Lisboa, essa nunca seria uma opção. "É um bairro com uma mistura de pessoas com muita vida e muito mundo", conta o quadro superior que mora com a família num apartamento recuperado no Largo da Academia Nacional de Belas-Artes. "É o centro da capital, mas ao mesmo tempo parece que se está numa aldeia, em que há miúdos a jogar à bola e pessoas a estender roupa na rua", descreve José Ricardo Monteiro, um setubalense que vive "há cinco ou seis anos" num prédio novo no coração do Chiado. O publicitário de 37 anos tem "uma série de amigos" que acabaram por se tornar vizinhos, todos "com poder aquisitivo superior à média" e vários dos quais desenvolvem a sua actividade profissional em ateliers na mesma zona. Tanto José Ricardo como Salvador Roque de Pinho acreditam que no Chiado existe um saudável equilíbrio entre o comércio tradicional e moderno, que se vai disseminando para lá das artérias mais centrais, e entre os moradores mais antigos e os mais recentes, que ocupam prédios que estavam devolutos ou tinham usos que não habitacionais. E essa renovação parece ser um movimento imparável, como atestam os muitos prédios em obra por todo o bairro histórico, por exemplo na Rua Ivens.

Castelo menos genuíno

No Castelo, como em Alfama, na Madragoa e nos restantes bairros históricos de Lisboa, o sonho de reabilitar sem abrir as portas à especulação e sem escorraçar a população residente vem pelo menos de há 20 anos. Foi nos início dos anos 90, com a coligação PS-PCP, a dirigir a câmara, que se consolidaram e generalizaram os gabinetes técnicos locais.

Duas décadas depois, os números oficiais apontam para cerca de 4600 fogos, camarários e privados, recuperados entre 1994 e 2007 com fundos estatais, mas os bairros continuam à beira da ruína - cheios de prédios entaipados e rodeados de andaimes enferrujados. E o objectivo essencial de preservar o que eles tinham de mais genuíno, os seus habitantes, está longe de ser conseguido. Pelos bairros vizinhos, pelos subúrbios de ambas as margens e por bairros camarários como a Quinta dos Ourives, em Marvila, é possível encontrar centenas de famílias deslocadas, à custa do orçamento camarário, por vezes há mais de uma década, à espera que as velhas casas - a que ainda chamam suas - sejam salvas da derrocada final.

O secretário da junta de freguesia, João Capelo, considera que por ali "a vivência se mantém mais ou menos como antes", embora não esconda o seu desalento por constatar que ao fim de 15 anos ainda falta recuperar mais de um terço do bairro onde moravam 597 pessoas em 2001 - sem contar com as muitas que continuavam deslocadas à espera de poder regressar - e que a qualidade do que foi feito deixa muito a desejar. Para este autarca, os novos residentes, que moram em casas particulares recuperadas, também não têm culpas no cartório: "Eles não mudam nada no bairro, integram-se perfeitamente e há uma boa convivência." Nas casas privadas "as rendas subiram depois das obras".

Já fora dos muros, mas com um sentimento de pertença ao Castelo, que se esforça por transmitir aos filhos, vive Ana Nuasco, 43 anos, documentalista, uma protagonista da atracção que o centro histórico de Lisboa exerce sobre muitos que vêm de fora. Originária de Setúbal, veio há 15 anos para o Bairro Alto, "porque era aí que a cidade palpitava mais, onde havia ambiente, beleza e carácter".

Depois saiu de Portugal e na volta, já lá vão 11 anos, não pensou duas vezes. Casada com um professor inglês, os olhos de ambos prenderam-se à Costa do Castelo, a extensa rua que corre por baixo e em volta das muralhas e que só à conta dela atravessa três freguesias: Socorro, São Cristóvão e São Lourenço, e Santiago, às portas do Castelo. "Nunca tivemos dúvidas de que queríamos comprar casa no centro da cidade. Sacrificamos o conforto de uma casa moderna nos subúrbios, mas estamos perto de tudo, há muita cultura, há a sensação de estarmos no centro, mas não sufocados. Temos o céu, o rio, as colinas..." Pela negativa, responde de imediato : "A única coisa que nos oprime um bocadinho é a falta de melhorias ao nível da limpeza urbana, a falta da cultura de cuidar do aspecto exterior das casas. Há pedras soltas na calçada há 11 anos. Isso começa a cansar.

"E o bairro, os velhos moradores, são-vos estranhos, vivem noutro mundo? "Não! Conhecemos muitas pessoas daqui, vamos à mercearia da esquina em que até temos fiado. Trocamos receitas, as pessoas comunicam muito umas com as outras, mas também nos damos com gente da Graça, de Alfama, do Castelo. "Sim porque o Castelo é que é a terra de Ana. "Identificamo-nos muito com o Castelo. Isto devia ser freguesia do Castelo. A minha filha anda na escola do Castelo e o muro do nosso jardim é a muralha do Castelo, onde os portugueses lutaram com os mouros. Espero que os meus filhos venham a dizer mais tarde que foram criados aqui!"

Para ela a rua é como se fosse a sua aldeia e nunca ali se sentiu uma intrusa. "Nem nunca senti que alguém me considerasse como tal, ou que a nossa presença e a dos muitos outros que para aqui vieram tivesse alterado a vida do bairro." Uma coisa pode, porém, ter acontecido com o aumento da procura: "A habitação é muito cara e é raríssimo aparecerem casas para vender ou arrendar, mas também há aqui casas de renda baixa e com famílias de poucos recursos."»

Foto: edifício abandonado no Largo do Chiado

Wednesday, February 24, 2010

"Vigilantes" da CARRIS: mais de 9000 autuações em 2009

Desde 2004 que a Carris dispõe de um serviço de “Vigilantes” com o objectivo de contribuir para a melhoria das condições de circulação e operação do transporte público da Carris, complementando a actividade normal das entidades policiais. Diariamente os “Vigilantes” percorrem a rede da Carris, procurando com a sua presença desmotivar as infracções na circulação e no estacionamento que penalizem a circulação dos autocarros e eléctricos.

Infelizmente, apesar da actuação dos “Vigilantes” e das entidades policiais, ainda se verificam muitas situações de falta de respeito pelo transporte público. Segundo informação da CARRIS, só no ano de 2009, os agentes da Polícia Municipal, em serviço nos “Vigilantes”, procederam a mais de 9000 autuações, com parte significativa ao longo do trajecto da carreira 28 de eléctricos.

Foto: o dia a dia da vida do Eléctrico 28 na R. de S. Vicente

Friday, January 15, 2010

VOTE na Pedonalização do Largo de São Vicente - OP 2010




ATENÇÃO: termina hoje à meia-noite a fase de votação nos projectos seleccionados para o Orçamento Participativo 2010. Vimos apelar ao voto na proposta do Fórum Cidadania Lx - Pedonalização do Largo de São Vicente e instalação de pilaretes na Rua da Voz do Operário:

http://www.cm-lisboa.pt/?idc=618&kword=Largo+de+S%E3o+Vicente&area=0

A proposta, integrada na área "Infra-estruturas Viárias, Trânsito e Mobilidade" com o número 392, tem a seguinte redacção:

O conjunto urbano do Largo de S. Vicente e Rua da Voz do Operário constitui um dos piores exemplos de espaço público privatizado para estacionamento de viaturas particulares. Nos Bairros Históricos, onde há falta de jardins e espaços abertos, é inaceitável continuar a tolerar este tipo de ocupação nos arruamentos emblemáticos da capital. Todos os cidadãos têm direito a usufruir dos largos de Lisboa. O bem comum tem de ser promovido e defendido pela CML. Solicitamos a requalificação do Largo de São Vicente (pedonalização) e da Rua da Voz do Operário (instalação de pilaretes).

PARTICIPE! Ajude-nos a dignificar um dos largos mais históricos de Lisboa!

OBRIGADO!